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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo Um intro­duz uma nar­ra­ti­va vis­cer­al e inten­sa, na qual o encon­tro com Jere­my mar­ca não ape­nas o iní­cio de um romance, mas tam­bém o pon­to de vira­da de toda uma existên­cia. Des­de o iní­cio, a pro­tag­o­nista demon­stra uma con­sciên­cia inqui­etante de que o fim se aprox­i­ma, não como uma pos­si­bil­i­dade remo­ta, mas como uma certeza que ape­nas aguar­da seu momen­to. Ain­da assim, ela mer­gul­ha de cabeça na lem­brança daque­le primeiro con­ta­to, onde cada detal­he – o vesti­do ver­mel­ho, o ambi­ente, o olhar de Jere­my – se mis­tu­ra ao dese­jo de ser vista, dese­ja­da, talvez até sal­va. A sedução é descri­ta de for­ma estratég­i­ca, não como um aca­so, mas como uma core­ografia entre dois descon­heci­dos que sabi­am exata­mente o que estavam fazen­do. E mes­mo assim, há algo de autên­ti­co naque­le gesto ousa­do de Jere­my ao pedir que ela bebesse água: um mis­to de pre­ocu­pação e arrogân­cia que intri­ga.

    O inter­esse da pro­tag­o­nista por Jere­my não vem ape­nas de sua aparên­cia ou do con­tex­to lux­u­oso em que ele parece estar inseri­do. Há uma ten­são entre o que ele rep­re­sen­ta – sta­tus, beleza, con­fi­ança – e o que ele de fato rev­ela: vul­ner­a­bil­i­dade, humor e até uma pita­da de engano. Quan­do ele admite que a limu­sine não era sua e que tra­bal­ha como fax­ineiro, a rev­e­lação não afas­ta a nar­rado­ra, mas a atrai ain­da mais. Essa descon­strução do “homem per­feito” o tor­na mais humano, mais acessív­el, e ain­da assim incriv­el­mente dese­jáv­el. A hon­esti­dade ines­per­a­da, com­bi­na­da com o toque hábil de seus dedos, trans­for­ma aque­la noite em algo que vai além do sexo oca­sion­al. O dese­jo cresce não ape­nas por seu cor­po, mas pela pos­si­bil­i­dade de um novo cam­in­ho, talvez até de um recomeço.

    As cenas seguintes são car­regadas de sen­su­al­i­dade e emoção con­ti­da, mas tam­bém rev­e­lam algo maior: uma conexão pro­fun­da entre dois estran­hos que pare­cem se recon­hecer em um instante. Com­er batatas fritas entre bei­jos, dividir um milk­shake enquan­to as mãos explo­ram os lim­ites do per­mi­ti­do – tudo soa como um rit­u­al de entre­ga silen­ciosa. A ausên­cia de pres­sa, o cuida­do com que Jere­my a con­duz, indicam que o que começou como uma noite qual­quer esta­va rap­i­da­mente se trans­for­man­do em algo com raízes. E mes­mo que ambos mintam sobre suas idades ou sta­tus, a transparên­cia emo­cional entre eles é mais real do que qual­quer ver­dade fac­tu­al. É essa inten­si­dade crua, quase sel­vagem, que tor­na o encon­tro tão mem­o­ráv­el para ela.

    Quan­do final­mente chegam à casa de Jere­my, a sim­pli­ci­dade do lugar con­trasta com a pro­fun­di­dade do momen­to. Não há luxo, mas há entre­ga. A cama não é grande, mas é onde ela sente, pela primeira vez, que o ato de faz­er amor envolve muito mais do que o físi­co. Para ela, não é ape­nas um cor­po se ofer­e­cen­do – é o coração se abrindo, é a alma se despin­do jun­to com as roupas. Esse tipo de conexão rara­mente acon­tece à primeira vista, mas aqui é retrata­do com tan­ta força emo­cional que o leitor quase sente estar pres­en­cian­do algo sagra­do. É um instante onde o dese­jo se mis­tu­ra à esper­ança e ao medo, tudo embal­a­do pela sen­sação de que aque­le encon­tro pode mudar o rumo da vida dela – ou levá-la ain­da mais fun­do à tragé­dia.

    Do pon­to de vista psi­cológi­co, o capí­tu­lo rev­ela uma mul­her que vive na lin­ha tênue entre con­t­role e autode­stru­ição. Seu com­por­ta­men­to, ain­da que impul­si­vo, demon­stra uma lucidez sur­preen­dente. Ela sabe o que quer, mas tam­bém entende o risco de dese­jar demais. A frase de Bukows­ki no iní­cio não é gra­tui­ta – é uma con­fis­são. Ela escol­heu amar algo (ou alguém) com tan­ta força que está dis­pos­ta a ser destruí­da por isso. E isso reflete um padrão obser­va­do em traços de per­son­al­i­dades com trau­mas mal resolvi­dos ou carên­cias afe­ti­vas pro­fun­das: a bus­ca por inten­si­dade como for­ma de preencher o vazio.

    Por fim, é inter­es­sante destacar que, ape­sar da nar­ra­ti­va girar em torno de uma noite de paixão, o que a tor­na inesquecív­el não é o sexo em si, mas tudo o que o ante­cede e o que ele rep­re­sen­ta. A tro­ca de olhares, os silên­cios com­par­til­ha­dos, as men­ti­ras con­fes­sadas com humor – cada gesto con­strói uma ponte entre duas pes­soas imper­feitas, mas dis­postas a se arriscar. Para leitores, esse tipo de história ofer­ece mais do que entreten­i­men­to; ela acende reflexões sobre escol­has, des­ti­no e a lin­ha tênue entre amor e obsessão. E como todo bom capí­tu­lo de aber­tu­ra, deixa uma per­gun­ta no ar: será que esse amor vai salvá-la… ou será o que vai destruí-la?

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