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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
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    Verity (Colleen Hoover)

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    Capítulo 6 revela-se com a narradora tentando concentrar no trabalho, mas sendo continuamente distraída pela grandiosidade do escritório de Verity. As janelas de vidro, do chão ao teto, oferecem uma vista ampla e serena, algo que deveria inspirar criatividade, mas que só acentua o contraste com a angústia interna que ela sente. Do outro lado do vidro, Verity está imóvel em sua cadeira de rodas na varanda, como uma figura silenciosa que observa, mesmo que sem reação aparente. O cenário é belo, mas carrega um peso invisível, como se cada raio de sol que entra pelo vidro arrastasse também uma sombra. Enquanto tenta mergulhar nos livros e personagens da série que herdou para continuar, o olhar ausente de Verity parece acompanhá-la, transformando a tarefa criativa em um desafio emocional. Manter o foco entre anotações, esboços e o manuscrito original torna-se cada vez mais difícil quando a presença física da autora original paira como um fantasma vivo.

    Ao mesmo tempo em que a narradora tenta entender o universo fictício criado por Verity, ela enfrenta seu próprio enredo real: falta de moradia iminente e dívidas que se acumulam como páginas nunca lidas. Essas pressões invadem seus pensamentos com a mesma força dos personagens que precisa dar continuidade. Jeremy, atento às mudanças sutis em seu comportamento, oferece apoio de maneira discreta, propondo que ela permaneça mais tempo na casa até se organizar financeiramente. Esse gesto, embora generoso, traz implicações emocionais difíceis de ignorar. Ela sabe que esse apoio não vem de um lugar neutro — há gentileza, mas também há tensão. A forma como ele a observa, os momentos de silêncio entre os dois, e os toques sutis na conversa criam uma atmosfera carregada de sentimento não dito. A barreira entre profissional e pessoal começa a se desfazer, pouco a pouco, como a névoa dissipando no calor do dia.

    A tensão entre empatia e desconforto cresce à medida que a narradora se envolve com a realidade daquela casa. O estado de Verity, embora clínico, começa a parecer mais ambíguo a cada dia — haveria mesmo ausência total de consciência? Será que aquela quietude era apenas um disfarce? A enfermeira, as expressões no rosto de Verity, até mesmo os movimentos mínimos, alimentam essas dúvidas silenciosas. Conviver com alguém nesse estado exige mais do que compaixão; exige vigilância, interpretação de sinais invisíveis e, principalmente, resistência emocional. A narradora sente que o peso de estar ali vai além de terminar uma obra — trata-se de atravessar um território psicológico cercado por luto, culpa e expectativa. Ela questiona até que ponto Verity entende o que acontece ao seu redor e se, em algum nível, ainda tenta exercer controle sobre o ambiente, mesmo sem mover um músculo.

    As conversas com Jeremy revelam mais sobre ele do que qualquer outra interação até então. Ele fala pouco, mas diz muito com gestos. Seu cuidado com Crew, a maneira como organiza o cotidiano da casa e seu esforço em manter tudo funcional mostram um homem exausto, mas resiliente. A narradora começa a enxergá-lo não só como o marido de Verity, mas como alguém que carrega o fardo de uma perda profunda e, mesmo assim, continua seguindo em frente. Isso a faz sentir-se ainda mais dividida. É difícil não se deixar tocar por esse tipo de força silenciosa. Mas é igualmente difícil não se perguntar se essa força vem do amor ou da culpa.

    As noites, antes silenciosas, agora são repletas de pensamentos e inquietações. A narradora relê trechos do manuscrito escondido e encontra pistas contraditórias, como se Verity tivesse múltiplas versões de si mesma. Isso a faz duvidar até da veracidade de suas próprias interpretações. Seria Verity uma vítima da mente ou autora da própria ruína? Essa dúvida paira como um véu sobre tudo. Jeremy, embora gentil, evita tocar nesses pontos, o que torna tudo ainda mais misterioso. E essa ausência de respostas alimenta ainda mais o medo. Dormir sob o mesmo teto que alguém que talvez compreenda tudo, mas não diga nada, torna-se cada vez mais insuportável.

    E mesmo assim, no meio de tudo isso, surgem momentos de ternura. Um jantar simples, um elogio inesperado, a forma como Jeremy se preocupa com Crew. Esses fragmentos de vida normal são os fios que impedem a narradora de desmoronar. Ela encontra consolo nos detalhes — o cheiro de café fresco, o barulho da madeira quando alguém sobe as escadas, o riso breve de Crew antes de dormir. Pequenos lembretes de que ainda há humanidade ali, mesmo quando tudo parece imerso em dúvida. A casa, com suas memórias nas paredes e silêncios nos corredores, é um personagem à parte — um que observa tudo e guarda segredos que talvez nunca sejam revelados por completo.

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