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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 3 começa com a lem­brança de um rela­ciona­men­to que pode­ria ter muda­do o rumo da vida da pro­tag­o­nista. Seu ex-namora­do, Amos, tin­ha gos­tos sex­u­ais perigosos, como a asfix­ia eróti­ca, que a fiz­er­am colo­car sua segu­rança aci­ma da paixão. Às vezes, ela se ques­tion­a­va se teria segui­do out­ro cam­in­ho ao ced­er aos dese­jos dele – talvez um casa­men­to, talvez fil­hos. Mas as memórias de momen­tos angus­tiantes, como o risco de ser despe­ja­da, a lem­bravam de que, ape­sar das difi­cul­dades, tin­ha escapa­do de uma situ­ação emo­cional­mente e fisi­ca­mente arrisca­da. Essa reflexão ini­cial não é ape­nas sobre o pas­sa­do amoroso, mas uma intro­dução ao padrão de escol­has mar­cadas pelo medo e pela sobre­vivên­cia. A auto­ra cria uma conexão emo­cional ao mostrar como o trau­ma pes­soal pode ser revivi­do por even­tos aparente­mente desconex­os, como o som de uma por­ta ou a chega­da ines­per­a­da de alguém.

    A visi­ta de Corey, seu agente e anti­go par­ceiro oca­sion­al, des­en­cadeia uma série de emoções con­tra­ditórias. Emb­o­ra sua pre­sença tra­ga boas notí­cias – um novo con­tra­to de escri­ta que garante um avanço finan­ceiro – tam­bém escan­cara o abis­mo entre eles. Corey está envolvi­do com out­ra mul­her, Rebec­ca, e isso encer­ra qual­quer esper­ança de rec­on­cil­i­ação român­ti­ca. Mes­mo assim, a comem­o­ração do con­tra­to acon­tece com uma gar­rafa de cham­pan­he, crian­do um con­traste entre cel­e­bração profis­sion­al e ten­são pes­soal. A pro­tag­o­nista ten­ta man­ter a com­pos­tu­ra, mas sente que Corey não enx­er­ga sua real­i­dade: a quase falên­cia, a solidão, a dor ain­da recente da per­da da mãe. É comum que profis­sion­ais cria­tivos escon­dam suas difi­cul­dades atrás de real­iza­ções. Isso é um lem­brete impor­tante de que suces­so aparente nem sem­pre rep­re­sen­ta esta­bil­i­dade ou bem-estar.

    Enquan­to dis­cutem o pro­je­to, Jere­my Craw­ford e sua esposa, Ver­i­ty, tor­nam-se o novo foco da con­ver­sa. Ver­i­ty está inca­pac­i­ta­da após um aci­dente, e Jere­my propôs que out­ra auto­ra desse con­tinuidade à sua série famosa. A ideia de morar tem­po­rari­a­mente na casa dos Craw­ford para mer­gul­har nos man­u­scritos parece desafi­ado­ra, mas promis­so­ra. Corey, porém, reage com hes­i­tação. Ele com­par­til­ha detal­h­es inqui­etantes sobre a vida do casal: a morte de duas fil­has peque­nas em aci­dentes dis­tin­tos e o aci­dente de Ver­i­ty, envolto em mis­tério. Para Corey, isso não são ape­nas coin­cidên­cias trág­i­cas – é uma sucessão de even­tos som­brios demais para serem igno­ra­dos. Essa descon­fi­ança insti­ga o leitor a ques­tionar se há algo mais sin­istro sob a super­fí­cie da história.

    Mes­mo com a apreen­são de Corey, a pro­tag­o­nista escol­he seguir em frente. Ela está con­ven­ci­da de que as tragé­dias da família Craw­ford são ape­nas fatal­i­dades, não prenún­cios de peri­go. Isso demon­stra uma com­bi­nação de cor­agem, neces­si­dade e negação, comum em momen­tos deci­sivos da vida. O aparta­men­to onde ela mora, com sua atmos­fera car­rega­da des­de o falec­i­men­to da mãe, já não parece seguro nem emo­cional­mente acol­he­dor. Corey, ao se des­pedir, deixa uma sen­sação de fechamen­to, como se aque­le capí­tu­lo da vida dela – o luto, a inse­gu­rança finan­ceira, e as relações inacabadas – estivesse se encer­ran­do. A auto­ra insere aqui uma metá­fo­ra del­i­ca­da sobre a tran­sição. Às vezes, um adeus não é dramáti­co; é ape­nas o silên­cio que vem quan­do alguém fecha a por­ta.

    Enquan­to o capí­tu­lo se encer­ra, o leitor entende que o ver­dadeiro desafio ain­da está por vir. A pro­tag­o­nista ago­ra pre­cisa lidar com o pas­sa­do som­brio da casa de Ver­i­ty, além de explo­rar os lim­ites cria­tivos de out­ra auto­ra. Essa tare­fa exige mais do que tal­en­to; exige resil­iên­cia emo­cional. O medo do fra­cas­so, os ecos das dores ante­ri­ores e o peso das expec­ta­ti­vas vão acom­pan­har cada palavra que ela escr­ev­er. Ain­da assim, há uma força silen­ciosa em sua decisão de ir – uma con­vicção que muitos escritores con­hecem bem: às vezes, o salto no escuro é o que per­mite que a história se rev­ele. E essa, como toda boa história, car­rega promes­sas, riscos e um mis­tério que só poderá ser rev­e­la­do pelas pági­nas seguintes.

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