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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 10 traz à tona as inqui­etações da pro­tag­o­nista após a leitu­ra impac­tante do man­u­scrito de Ver­i­ty. A frieza con­ti­da nas palavras da auto­ra a leva a refle­tir sobre a natureza da mater­nidade e a pos­si­bil­i­dade de exi­s­tirem mães que jamais dev­e­ri­am ter assum­i­do esse papel. Ela começa a ques­tionar a roman­ti­za­ção da figu­ra mater­na e recon­hece que, para algu­mas mul­heres, o vín­cu­lo com os fil­hos pode vir acom­pan­hado de ressen­ti­men­to ou recusa. Jere­my, em con­tra­parti­da, é vis­to como um pai aten­to, cuja ded­i­cação às fil­has con­trasta forte­mente com o com­por­ta­men­to descrito por Ver­i­ty. A pro­tag­o­nista se per­gun­ta se sua própria visão sobre a mater­nidade mudaria diante de taman­ha pressão emo­cional. A dúvi­da que começa a se for­mar é se Ver­i­ty foi uma mul­her cru­el ou ape­nas alguém sufo­ca­da por expec­ta­ti­vas que não con­seguia cumprir.

    Com esse dile­ma em mente, a pro­tag­o­nista decide exam­i­nar os obje­tos pes­soais deix­a­dos por Ver­i­ty, bus­can­do pis­tas que a aju­dem a com­preen­der mel­hor quem ela foi. Diante dos álbuns de fotos, hesi­ta em abri-los por receio de ultra­pas­sar o lim­ite entre curiosi­dade e invasão. Ain­da assim, jus­ti­fi­ca sua ação como parte essen­cial do proces­so cria­ti­vo — afi­nal, sua função é con­cluir os livros de Ver­i­ty com fidel­i­dade ao esti­lo e à voz da auto­ra. A escri­ta de uma série literária exige mais do que téc­ni­ca; exige empa­tia e com­preen­são da mente por trás das palavras. Quan­do final­mente fol­heia as ima­gens, depara-se com cenas que con­trastam com os relatos frios da auto­bi­ografia: momen­tos ínti­mos e afe­tu­osos entre mãe e fil­has. Isso provo­ca uma dis­sonân­cia que a con­funde — pode­ria Ver­i­ty ter sido, ao mes­mo tem­po, afe­tu­osa e cru­el?

    As fotografias, espe­cial­mente uma que mostra Ver­i­ty sor­rindo com as fil­has nos braços, des­per­tam uma nova cama­da de dúvi­da. A imagem, cap­tura­da com espon­tanei­dade, trans­mite uma ter­nu­ra que não con­diz com o retra­to bru­tal pre­sente no man­u­scrito. Seria pos­sív­el que Ver­i­ty ten­ha fal­si­fi­ca­do sua auto­bi­ografia, usan­do a escri­ta como uma for­ma de punir ou con­fes­sar? Ou talvez ela ten­ha sido hon­es­ta, mas pon­tual­mente envolvi­da em momen­tos de afe­to? A dual­i­dade apre­sen­ta­da nas fotos mostra que as pes­soas são mais com­plexas do que qual­quer nar­ra­ti­va pode descr­ev­er. Em casos reais, mães que enfrentam depressão pós-par­to muitas vezes apre­sen­tam com­por­ta­men­tos ambígu­os — demon­stran­do amor num momen­to e rejeição no out­ro, o que lev­an­ta questões sobre saúde men­tal não trata­da.

    Jere­my entra na sala e encon­tra a nar­rado­ra mer­gul­ha­da ness­es frag­men­tos do pas­sa­do. A con­ver­sa entre os dois se apro­fun­da em lem­branças sobre Chastin e Harp­er, rev­e­lando per­son­al­i­dades dis­tin­tas: uma mais doce, out­ra mais inten­sa, ambas inten­sa­mente amadas por ele. A dor da per­da trans­parece em suas palavras e em seu olhar, mas é a rai­va que se desta­ca quan­do ele men­ciona Ver­i­ty. A sus­pei­ta de que ela pos­sa ter cau­sa­do, de for­ma dire­ta ou indi­re­ta, sua condição atu­al é ver­bal­iza­da com cautela, como quem ain­da teme dar nome ao que sente. Esse momen­to rev­ela não ape­nas o luto de Jere­my, mas sua luta inter­na com a cul­pa, a descon­fi­ança e o amor remanes­cente.

    Enquan­to o cli­ma entre os dois começa a se tornar mais ínti­mo, a chega­da repenti­na de Crew inter­rompe o momen­to. O meni­no aparece silen­ciosa­mente, quase como uma som­bra que surge para lem­brar aos adul­tos que há ain­da uma cri­ança em luto naque­la casa. Sua pre­sença devolve o peso da real­i­dade, inter­rompen­do a pos­si­bil­i­dade de qual­quer envolvi­men­to entre a nar­rado­ra e Jere­my. A cri­ança, emb­o­ra pouco fale, car­rega em seu silên­cio um retra­to doloroso do que sig­nifi­ca crescer em meio ao trau­ma. É um lem­brete de que, ape­sar dos sen­ti­men­tos que bro­tam entre os adul­tos, há uma vida peque­na que pre­cisa ser pro­te­gi­da — inclu­sive das decisões impul­si­vas dos out­ros.

    Esse capí­tu­lo desen­ha um quadro emo­cional den­so, onde a lin­ha entre vila­nia e frag­ili­dade é tênue. A nar­ra­ti­va oscila entre a curiosi­dade literária e a inves­ti­gação emo­cional, entre o luto e a pos­si­bil­i­dade de recomeço. A pro­tag­o­nista percebe que com­preen­der Ver­i­ty exige muito mais do que ler suas palavras: é pre­ciso mer­gul­har em suas con­tradições. E, nesse proces­so, ela tam­bém aca­ba sendo con­fronta­da com as próprias zonas som­brias — aque­las que se rev­e­lam quan­do se olha para o pas­sa­do de alguém com os olhos da ver­dade. Afi­nal, com­preen­der o out­ro pode ser um cam­in­ho perigoso quan­do se começa a desco­brir que os sen­ti­men­tos mais humanos nem sem­pre são os mais nobres.

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