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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo Seis

    Já havi­am pas­sa­do seis meses des­de que elas nasce­r­am e eu ain­da prefe­ria que não exis­tis­sem.
    Mas elas exis­ti­am e Jere­my as ama­va. Então eu seguia ten­tan­do. Às vezes me per­gun­ta­va se aqui­lo valia a pena. Às vezes que­ria arru­mar min­has coisas e ir emb­o­ra. Mas eu sabia que uma vida sem Jere­my não era o que eu que­ria. Então eu tin­ha duas opções:

    1. Viv­er com ele e aque­las duas meni­nas que ele ama­va mais do que a mim.

    2. Viv­er sem ele.

    Àquela altura, não havia o que faz­er. Elas estavam no pacote. Odi­a­va a mim mes­ma por não ter usa­do nen­hum méto­do anti­con­cep­cional, por ter acha­do que ficaria tudo bem. Não esta­va tudo bem. Não comi­go, pelo menos. Era como se a min­ha família estivesse den­tro de um globo de neve. Lá den­tro era tudo aconchegante e per­feito, mas eu não fazia parte. Eu esta­va do lado de fora, olhan­do.

    Neva­va naque­la noite, mas o aparta­men­to esta­va quentin­ho. Mes­mo assim, acordei com calafrios. Com uma tremedeira, na ver­dade. Não con­seguia parar de tremer. Tive um pesade­lo tão vívi­do que con­tin­uei sentin­do seus efeitos por horas depois de acor­dar, como se fos­se uma ressaca.

    Son­hei com o futuro: meu, das meni­nas, de Jere­my. Elas tin­ham uns 8 ou 9 anos. Não ten­ho certeza, não enten­do muito de cri­anças e seus taman­hos. Só me lem­bro de acor­dar com a sen­sação de que tin­ham 8 ou 9 anos.

    No son­ho, eu pas­sa­va pelo quar­to delas e dava uma espi­a­da para den­tro. Não enten­dia muito bem o que eu via. Harp­er esta­va em cima de Chastin, cobrindo sua cabeça com um trav­es­seiro. Cor­ri até lá com medo de que fos­se tarde demais, tirei Harp­er e o trav­es­seiro de cima da irmã. Ao olhar para Chastin, lev­ei um sus­to.

    Não havia nada ali. Seu ros­to esta­va liso, como se fos­se uma cabeça care­ca. Não havia cica­triz. Nem olhos. Ou boca. Nada que pudesse ser asfix­i­a­do.

    Olhei para Harp­er, que me encar­a­va com uma expressão sin­is­tra.
    — O que você fez?

    E então eu acordei.

    Não foi exata­mente o son­ho que me deixou tão abal­a­da. Mas a sen­sação de que era uma pre­monição. Aqui­lo me afe­tou muito. Sen­tei na cama, segu­ran­do os joel­hos e bal­ançan­do para a frente e para trás, ten­tan­do enten­der o que era aque­le sen­ti­men­to. Dor. Era dor. Uma… dor no coração.

    Eu sen­ti meu coração doer no son­ho? Quan­do achei que Chastin esta­va mor­ta, min­ha von­tade era cair de joel­hos e chorar. É exata­mente como me sin­to quan­do pen­so na pos­si­bil­i­dade de Jere­my mor­rer. Eu sim­ples­mente pararia de fun­cionar.

    Fiquei lá sen­ta­da choran­do. Era um sen­ti­men­to muito inten­so. Será que final­mente tin­ha me conec­ta­do com elas? Com Chastin, pelo menos? Ser mãe era isso, esse sen­ti­men­to? Amar algu­ma coisa de uma maneira tão inten­sa que a sim­ples ideia de perdê-la causa dor físi­ca?

    Foi o máx­i­mo de sen­ti­men­to que exper­i­mentei des­de que elas foram con­ce­bidas. Mes­mo que fos­se só por uma delas, acho que já con­ta­va.

    Jere­my rolou pela cama, abriu os olhos e me viu sen­ta­da lá, segu­ran­do os joel­hos.
    — Você está bem?

    Não que­ria que ele me per­gun­tasse isso porque Jere­my era bom em desven­dar meus pen­sa­men­tos. A maio­r­ia deles, pelo menos. E não que­ria que ele desven­dasse esse. Como eu pode­ria con­tar que final­mente ama­va uma de nos­sas fil­has sem admi­tir que, des­de o iní­cio, não gosta­va de nen­hu­ma das duas?

    Eu pre­cisa­va faz­er algu­ma coisa. Deixá-lo ocu­pa­do para que não fizesse mais per­gun­tas. Pela min­ha exper­iên­cia, ele não con­seguiria tirar nada de mim se eu estivesse com seu pau na min­ha boca.

    Engat­in­hei por cima dele e Jere­my já esta­va duro antes mes­mo de eu começar. Fui com tudo para cima dele.

    Ado­ra­va ouvi-lo gemer. Nor­mal­mente ele era silen­cioso, mas quan­do eu o pega­va despre­venido, ele se solta­va. Naque­le momen­to, esta­va eufóri­co. Fiquei imag­i­nan­do… quan­tas mul­heres o fiz­er­am gemer antes de mim? Quan­tos out­ros lábios já estiver­am naque­le pau?

    Esperei ele sair da min­ha boca para per­gun­tar.
    — Quan­tas mul­heres já chu­param seu pau?

    Apoia­do nos cotove­los, ele me olhou, choca­do.
    — É sério isso?

    — Fiquei curiosa.

    Ele riu, dei­tan­do no trav­es­seiro.
    — Sei lá. Nun­ca con­tei.

    — Tan­tas assim? — provo­quei.

    Mon­tei em cima dele. Ele se mexeu por baixo de mim e agar­rou min­has coxas, o que eu ado­ra­va.
    — Se demor­ou tan­to a respon­der, devem ser mais do que cin­co.

    — Com certeza foram mais de cin­co — disse ele.
    — Mais de dez?

    — Talvez. Acho que sim. Sim.

    É muito louco que aqui­lo não me deix­as­se com ciúmes, mas duas cri­anças me tirassem do sério. Talvez fos­se porque as meni­nas estavam na vida dele ago­ra, enquan­to todas essas out­ras vagabun­das… estavam no pas­sa­do.

    — Mais de vinte?

    Ele levan­tou as mãos e agar­rou meus seios. Pela sua cara, esta­va prestes a meter em mim. Com força.
    — Acho que é uma boa esti­ma­ti­va — sus­sur­rou, me puxan­do para per­to.

    Ele aprox­i­mou seus lábios dos meus e desceu uma das mãos, me acari­cian­do lá embaixo.
    — E quan­tos caras já te chu­param?

    — Dois. Não sou promís­cua igual a você.

    Ele riu, ain­da com os lábios gru­da­dos aos meus, e me deitou na cama.
    — Mas você está apaixon­a­da por um promís­cuo.

    — Ex-promís­cuo. — Deix­ei claro.

    Eu esta­va engana­da a respeito da cara dele antes. Ele não meteu com força naque­la noite. Ele fez amor comi­go. Bei­jou cada cen­tímetro do meu cor­po. Ele me fez per­manecer deita­da enquan­to me provo­ca­va e tor­tu­ra­va, quan­do tudo que eu que­ria era chu­par seu pau. Toda vez que eu ten­ta­va me mex­er e tomar a frente, ele me impe­dia.

    Não sei por que sen­tia tan­to praz­er em sat­is­fazê-lo. Mas era ain­da mel­hor do que quan­do ele me sat­is­fazia. Deve ter algu­ma definição para isso na “lin­guagem do amor”, ou seja lá a bobagem que chamem. Min­ha lin­guagem de amor era servir. A de Jere­my era ter alguém chu­pan­do seu pau. Nós éramos uma com­bi­nação per­fei­ta.

    Ele esta­va prestes a gozar quan­do uma das meni­nas começou a chorar. Ele resmungou, eu revirei os olhos e ambos fomos pegar a babá eletrôni­ca. Jere­my que­ria olhar o que tin­ha acon­te­ci­do. Eu que­ria desligá-la.

    Ele já começa­va a amol­e­cer den­tro de mim, então tirei o apar­el­ho da toma­da. Ain­da dava para ouvir o choro no fim do corre­dor, mas cer­ta­mente eu con­seguiria abafá-lo se con­tin­uásse­mos de onde paramos.
    — Vou lá checar — disse ele, ten­tan­do se afas­tar.

    Puxei‑o para per­to e fiquei por cima.
    — Deixa que eu vou… assim que você gozar. Deixe as duas chorarem um pouquin­ho. Faz bem.

    Jere­my não ficou muito feliz com a ideia, mas, assim que colo­quei seu pau na boca de novo, ele aceitou.

    Ficou bem mais fácil engolir depois daque­la primeira vez que ten­tei. Sen­ti que ele esta­va prestes a gozar, então fin­gi que esta­va engas­ga­da. Não sei por quê, mas aqui­lo sem­pre o deix­a­va ani­ma­do, achar que eu esta­va engas­gan­do com seu pau. Home­ns. Ele gemeu, eu o colo­quei ain­da mais fun­do na gar­gan­ta, e então ter­mi­nou. Engoli, limpei a boca e lev­an­tei.
    — Pode dormir. Eu resol­vo isso.

    Eu real­mente que­ria resolver des­ta vez. Era a primeira vez que a neces­si­dade de ama­men­tá-las me fazia sen­tir algu­ma coisa além de irri­tação. Que­ria ama­men­tar Chastin. Que­ria abraçá-la, faz­er car­in­ho, dar amor. Esta­va ani­ma­da enquan­to ia até o quar­to.

    Mas a ani­mação foi toda emb­o­ra quan­do entrei e vi que era Harp­er quem esta­va choran­do.

    Que decepção.

    Os berços eram cola­dos e, sur­preen­den­te­mente, Chastin esta­va dor­min­do, ape­sar dos gri­tos de Harp­er. Pas­sei por ela e fui até Chastin.

    Sen­tia tan­to amor por ela naque­le momen­to que até doía. Sen­tia tan­ta von­tade que Harp­er calasse a boca que tam­bém doía.

    Tirei Chastin do berço e a lev­ei até a cadeira de bal­anço. Quan­do sen­tei, ela se anin­hou em meus braços. Eu me lem­brei do son­ho e de como fiquei apa­vo­ra­da ao ver Harp­er ten­tan­do machucá-la. Esta­va prestes a chorar só de pen­sar em perdê-la. Só de pen­sar que aque­le son­ho pudesse se tornar real.

    Talvez aqui­lo fos­se intu­ição de mãe. Talvez, no fun­do, eu soubesse que algo hor­rív­el acon­te­ceria a Chastin, e é por isso que esta­va sentin­do aque­le amor tão repenti­no e inten­so. E se aque­la tivesse sido a maneira que o uni­ver­so encon­trou para me faz­er amar aque­la garot­in­ha, já que eu não a teria por per­to por tan­to tem­po quan­to Harp­er?

    Talvez por isso eu não sen­tia nada por Harp­er. Porque Chastin teria a vida inter­romp­i­da muito cedo. Ela ia mor­rer, e então Harp­er ficaria sendo a úni­ca. Eu sabia que, em algum lugar den­tro de mim, esta­va escon­den­do o amor por Harp­er. Guardando‑o para depois que Chastin tivesse par­tido.

    Já esta­va fican­do com dor de cabeça com a gri­taria de Harp­er, então fechei os olhos bem aper­ta­dos. Cala a por­ra da boca! Não para de chorar, chorar, chorar. Estou ten­tan­do cri­ar um laço com meu bebê aqui.

    Ten­tei ignorá-la por mais alguns min­u­tos, mas tive medo de que Jere­my ficas­se pre­ocu­pa­do. Acabei colo­can­do Chastin de vol­ta no berço, e ela sur­preen­den­te­mente con­tin­u­a­va dor­min­do. É uma cri­ança óti­ma mes­mo. Fui até o berço de Harp­er e a olhei, cheia de rai­va. Pare­cia que, de algu­ma for­ma, o son­ho era cul­pa dela.

    Talvez eu estivesse inter­pre­tan­do o son­ho erra­do. Talvez não fos­se uma pre­monição. Talvez fos­se um avi­so. Se eu não fizesse nada a respeito do com­por­ta­men­to de Harp­er, Chastin mor­re­ria.

    De repente sen­ti uma neces­si­dade incon­troláv­el de evi­tar aqui­lo que eu sabia que esta­va para acon­te­cer. Nun­ca antes eu tive um son­ho tão real. Se não fizesse nada a respeito, ele ia se tornar real­i­dade. Pela primeira vez, não podia supor­tar a ideia de perder Chastin. Doía quase como a ideia de perder Jere­my.

    Não sabia nada sobre matar alguém, muito menos uma cri­ança. Da úni­ca vez que ten­tei, o máx­i­mo que con­segui foi uma cica­triz. Mas já tin­ha ouvi­do falar da Sín­drome da Morte Súbi­ta Infan­til. Jere­my me obrigou a ler sobre isso. Sei que não é inco­mum de acon­te­cer, mas não tin­ha infor­mações sufi­cientes para saber se pode­ri­am difer­en­ciar sufo­ca­men­to inten­cional e SMSI.

    Mas já ouvi falar de pes­soas que mor­reram dor­min­do sufo­cadas em seu próprio vômi­to. Esse caso seria mais difí­cil de apon­tar como inten­cional.

    Colo­quei os dedos nos lábios de Harp­er. Ela moveu a cabeça para a frente e para trás, achan­do que era uma mamadeira. Começou a sug­ar a pon­ta do meu dedo, mas não ficou sat­is­fei­ta. Largou o dedo e começou a gri­tar nova­mente.

    Chuta­va e se deba­tia. Enfiei o dedo mais fun­do em sua boca.

    Ela con­tin­u­a­va choran­do, então con­tin­uei enfian­do o dedo. Fez um som como se tivesse engas­ga­do, mas ain­da assim con­tin­u­a­va choran­do. Talvez um dedo só não seja sufi­ciente.

    Enfiei os dois dedos em sua boca, indo até a gar­gan­ta, até que min­has artic­u­lações estivessem tocan­do sua gen­gi­va. Ela não esta­va mais choran­do.

    Fiquei olhan­do por um momen­to, e logo seus braços começaram a se con­trair a cada espas­mo vio­len­to de seu cor­po. Suas per­nas estavam crispadas.

    Ela teria feito o mes­mo à irmã se eu não estivesse fazen­do isso ago­ra. Estou sal­van­do a vida de Chastin.

    — Ela está bem? — per­gun­tou Jere­my.

    Dro­ga. Dro­ga, dro­ga, dro­ga.

    Tirei os dedos da boca de Harp­er e a peguei no colo rap­i­da­mente, colo­can­do seu ros­to em meu peito para que Jere­my não percebesse sua fal­ta de ar.
    — Não sei — respon­di, viran­do-me para ele. Jere­my vin­ha em min­ha direção. Min­ha voz soa­va alu­ci­na­da. — Não con­si­go deixá-la feliz. Já ten­tei de tudo — disse, fazen­do car­in­ho na cabeça dela, ten­tan­do demon­strar pre­ocu­pação.

    Foi então que ela vom­i­tou em mim. E, assim que vom­i­tou, gri­tou. Berrou. A voz esta­va rou­ca, e ela engas­ga­va a cada gri­to. Foi um tipo de choro que nun­ca tín­hamos ouvi­do antes. Jere­my rap­i­da­mente a tirou de mim e ten­tou acalmá-la. Ele nem ligou que ela tivesse vom­i­ta­do em mim. Nem olhou para mim. Esta­va muito pre­ocu­pa­do, com as sobrancel­has arregal­adas e a tes­ta franzi­da. Aque­la pre­ocu­pação toda não era para mim. Era tudo para Harp­er.

    Pren­di a res­pi­ração e fui até o ban­heiro sem quer­er sen­tir aque­le cheiro. Era o que eu mais odi­a­va na mater­nidade. Aque­la mer­da daque­le vômi­to todo em cima de mim.

    Enquan­to esta­va no ban­heiro, Jere­my preparou uma mamadeira para Harp­er. Quan­do saí do ban­ho, ela já tin­ha volta­do a dormir e ele esta­va na nos­sa cama lig­an­do o vídeo da babá eletrôni­ca nova­mente.

    Con­gelei ao deitar na cama. Dei uma olha­da no vídeo, uma imagem per­fei­ta dos berços de Harp­er e Chastin.

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