Verity (Colleen Hoover)
Capítulo Treze
byCapítulo Treze
Engravidei de Crew duas semanas depois de mentir a Jeremy que estava grávida. Era como se o destino estivesse a meu favor. Rezei e agradeci a Deus, embora não acreditasse que Ele tivesse algo a ver com aquilo.
Crew era um bebê bonzinho (eu imagino). Àquela altura eu ganhava tanto dinheiro que podia pagar por uma babá para ficar em tempo integral na casa nova. Jeremy tinha largado o trabalho para cuidar das crianças e achava que era desnecessário ter uma babá. Então passei a chamá-la de governanta (mas ela era uma babá).
Com a babá em casa, Jeremy passava os dias fazendo trabalhos e reparos manuais na propriedade. Mandei instalar janelas enormes no escritório para conseguir vê-lo de quase todos os ângulos.
A vida foi muito boa durante um tempo. Eu cuidava de todas as partes fáceis da maternidade enquanto Jeremy e a babá ficavam com as difíceis. E eu viajava muito. Fazia turnês de lançamento e entrevistas. Era ruim ficar sem o Jeremy, mas ele preferia ficar em casa com as crianças. Com o tempo, no entanto, passei a gostar desses intervalos. Percebi que, quando eu ficava longe por uma semana, Jeremy me dava muito mais atenção quando eu voltava, algo parecido com o que tínhamos antes das crianças.
Às vezes eu inventava que tinha trabalho em Nova York, alugava um apartamento no Chelsea e ficava uma semana lá assistindo à TV. Então, quando eu voltava, Jeremy transava comigo como se fosse a primeira vez. A vida estava maravilhosa.
Até não estar mais.
Foi uma questão de segundos. Como se o sol congelasse de repente, as trevas caíssem sobre nossas vidas e, não importava o quanto tentássemos, não conseguíamos ver a luz de novo.
Estava parada em frente à pia, limpando um frango. Uma porra de um frango cru. Podia estar fazendo qualquer coisa… molhando as plantas, escrevendo, fazendo tricô, qualquer outra coisa. Mas para sempre vou me lembrar daquele frango cru nojento ao pensar no momento em que soubemos que tínhamos perdido Chastin.
O telefone tocou. Eu estava limpando o frango.
Jeremy atendeu. Eu estava limpando o frango.
Começou a levantar a voz. Ainda limpando o maldito frango.
E aí veio aquele som… um som gutural, lancinante. Eu o ouvi dizer “não” e “como e onde ela está” e “já estamos indo”. Quando desligou, olhei para ele pelo reflexo da janela. Ele estava no corredor, segurando a porta como se fosse cair de joelhos sem aquele apoio. Eu ainda estava limpando o frango. As lágrimas começaram a escorrer em meu rosto, meus joelhos vacilaram. Meu estômago começou a revirar.
Vomitei no frango.
E é assim que sempre vou me lembrar de um dos piores momentos da minha vida.
Durante todo o caminho até o hospital, eu só imaginava como Harper tinha conseguido fazer aquilo. Harper a tinha sufocado, como no meu sonho? Ou tinha inventado uma maneira mais inteligente de matar a irmã?
Elas foram para uma festa do pijama na casa da Maria, uma amiguinha. Já tinham ido lá diversas vezes. E a mãe da Maria, Kitty — que nome idiota —, sabia da alergia de Chastin. Minha filha nunca saía de casa sem sua “caneta” de adrenalina, mas Kitty a encontrou desacordada naquela manhã. Chamou a emergência e ligou para Jeremy assim que a ambulância a levou.
Quando chegamos ao hospital, Jeremy ainda tinha uma frágil esperança de que eles tivessem se confundido e de que ela estivesse bem. Kitty nos encontrou no corredor e não parava de dizer: “Sinto muito. Ela não queria acordar.”
Foi tudo o que ela disse. “Ela não queria acordar.” Ela não disse “Ela está morta”, apenas “Ela não queria acordar”, como se Chastin fosse uma menina birrenta que não queria sair da cama.
Jeremy saiu correndo pelo meio do corredor de pacientes da emergência. Eles o tiraram de lá e avisaram que precisávamos esperar na sala da família. Todo mundo sabe que é o lugar onde ficam os parentes de alguém que morreu. Foi naquele instante que Jeremy entendeu que ela havia morrido.
Nunca tinha ouvido Jeremy gritar daquele jeito. Um homem adulto, de joelhos, soluçando como uma criança. Teria ficado com vergonha alheia se não estivesse ali com ele.
Ela estava morta havia menos de um dia quando finalmente conseguimos vê-la, mas já não tinha o cheiro de Chastin. Tinha cheiro de morte.
Jeremy fez muitas perguntas. Todas as perguntas. Como isso aconteceu? Tinham amendoim em casa? A que horas elas foram dormir? Alguém pegou a caneta de adrenalina na mochila dela?
Eram as perguntas certas. Devastadoramente certas. Pouco mais de uma semana depois, a causa da morte foi confirmada. Anafilaxia.
Nós tomávamos um cuidado extremo com a alergia dela. Toda vez que as meninas iam para algum lugar sob a responsabilidade de alguém, Jeremy passava meia hora conversando com a mãe do amiguinho sobre os procedimentos e explicando como usar a caneta de adrenalina. Sempre achei que fosse um exagero, porque só usamos aquilo uma vez na vida.
Kitty sabia muito bem da alergia e sempre tirava os amendoins do alcance das meninas quando elas estavam lá. O que ela não sabia é que, no meio da noite, as meninas tinham resolvido ir até a despensa pegar um lanchinho. Chastin tinha apenas 8 anos; estava escuro e era tarde quando elas ficaram com fome. Harper disse que não perceberam o que estavam comendo, nem que havia amendoim.
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