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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 11 se desen­ro­la sob um sol que con­trasta com a ten­são silen­ciosa den­tro da casa de Jere­my. Ape­sar do dia claro, o ambi­ente parece pesa­do, como se algo invisív­el estivesse sendo evi­ta­do por todos ali. Enquan­to Jere­my martela no deque e Crew se dis­trai na areia, a nar­rado­ra percebe uma inqui­etação cres­cente. Os ruí­dos noturnos, que surgem sem expli­cação, somam-se ao sen­ti­men­to de que há mais habi­tantes naque­la casa do que os olhos podem ver. Essa descon­fi­ança ali­men­ta não só o sus­pense da tra­ma, mas tam­bém o descon­for­to emo­cional de quem lê, pois a ideia de uma pre­sença invisív­el estim­u­la o medo mais prim­i­ti­vo: o de não saber com o que se está lidan­do.

    A dinâmi­ca entre os adul­tos na casa inten­si­fi­ca essa estran­heza. A nar­rado­ra, uma obser­vado­ra cada vez mais envolvi­da, nota o dis­tan­ci­a­men­to quase clíni­co entre Jere­my e Ver­i­ty, sua esposa em esta­do veg­e­ta­ti­vo. A enfer­meira April, com sua pos­tu­ra rígi­da, reforça a ideia de que Ver­i­ty merece respeito, ain­da que pareça ausente de tudo ao seu redor. Mas o que mais a nar­rado­ra teme não é a ausên­cia, e sim a pos­si­bil­i­dade de con­sciên­cia ocul­ta por trás da imo­bil­i­dade. Estu­dos indicam que pacientes em esta­do veg­e­ta­ti­vo podem, em alguns casos, man­ter níveis mín­i­mos de per­cepção — uma real­i­dade que dá calafrios quan­do pen­samos nas intenções ocul­tas de Ver­i­ty.

    O momen­to em que Crew apre­sen­ta uma tar­taru­ga à mãe par­al­isa­da é dev­as­ta­dor em sua doçu­ra. A cri­ança, inocente e cheia de esper­ança, não com­preende a pro­fun­di­dade da situ­ação. Ele só dese­ja um sinal, uma respos­ta, qual­quer gesto que con­firme que sua mãe ain­da está com ele de algu­ma for­ma. Essa cena reforça o impacto emo­cional da história, pois evi­den­cia como a tragé­dia famil­iar ultra­pas­sa os adul­tos e atinge em cheio a frag­ili­dade da infân­cia. A fal­ta de respos­ta não ape­nas que­bra o coração de Crew, como tam­bém reforça à nar­rado­ra o silên­cio opres­sor que dom­i­na a casa.

    Mais tarde, quan­do Jere­my con­vi­da a nar­rado­ra para sair para jan­tar, o cli­ma muda, ain­da que momen­tanea­mente. Pela primeira vez em dias, a rigidez do ambi­ente é suaviza­da por sor­risos, con­ver­sas leves e a espon­tanei­dade de Crew, que com suas piadas infan­tis ofer­ece um breve respiro aos adul­tos. Jere­my, por sua vez, demon­stra um cuida­do cres­cente pela nar­rado­ra, algo que vai além da sim­ples con­vivên­cia. A saí­da fun­ciona como uma válvu­la de escape, um lem­brete de que ain­da é pos­sív­el viv­er momen­tos de nor­mal­i­dade, mes­mo sob cir­cun­stân­cias tão anor­mais.

    Durante o jan­tar, é notáv­el como Jere­my se per­mite relaxar. Ele obser­va a nar­rado­ra com olhos que antes pare­ci­am cansa­dos demais para demon­strar afe­to, e ela, por sua vez, sente que algo está mudan­do entre eles. Essa mudança não é dita, mas sen­ti­da — um toque mais demor­a­do, um sor­riso que dura um segun­do a mais, um olhar com­par­til­ha­do em silên­cio. A pre­sença de Crew man­tém o equi­líbrio, impedin­do que a ten­são emo­cional trans­bor­de, mas não apa­ga o fato de que uma conexão mais pro­fun­da está se for­man­do. Para o leitor, ess­es detal­h­es con­stroem uma ante­ci­pação: até onde isso pode ir, e a que cus­to?

    Ao retornarem para casa, o con­traste entre o jan­tar leve e a escuridão habit­u­al da residên­cia é ime­di­a­to. O cli­ma som­brio parece retoma­do, como se aque­la noite agradáv­el tivesse sido ape­nas uma ilusão. Ain­da assim, a nar­rado­ra reflete sobre o que viveu — não com arrependi­men­to, mas com uma estran­ha paz. Ela sabe que está se envol­ven­do mais do que dev­e­ria, mas sente que resi­s­tir tornou-se difí­cil. Jere­my e Crew, cada um à sua maneira, preenchem os vazios que ela car­rega, mes­mo que ela evite admi­tir isso em voz alta.

    O capí­tu­lo ter­mi­na com uma sen­sação ambígua: há calor humano onde antes havia ape­nas frieza, mas ele vem acom­pan­hado de riscos. A nar­rado­ra se vê divi­di­da entre a empa­tia por uma família destruí­da e a cres­cente atração por um homem emo­cional­mente disponív­el, porém cer­ca­do de tragé­dias. O fato de Ver­i­ty estar viva — e talvez con­sciente — paira sobre tudo como uma ameaça silen­ciosa. E, ain­da que o leitor dese­je por momen­tos de lev­eza, a ten­são nun­ca desa­parece por com­ple­to. Ela ape­nas muda de for­ma, como uma som­bra que se arras­ta por entre as rachaduras da casa.

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