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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
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    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 2 começa com uma cena cotid­i­ana que, ape­sar de sim­ples, espel­ha o esta­do emo­cional da nar­rado­ra. Enquan­to obser­va uma formi­ga solitária em seu pé, ela se perde em pen­sa­men­tos sobre iso­la­men­to, liber­dade e con­fusão — sen­ti­men­tos que refletem per­feita­mente sua própria real­i­dade após meses de reclusão. A com­para­ção entre ela e o inse­to é sutil, mas poderosa, rev­e­lando uma sen­sação cres­cente de deslo­ca­men­to após cuidar de sua mãe doente por tan­to tem­po. A chega­da ines­per­a­da de uma men­sagem de Corey, seu agente e ex-amante, inter­rompe esse momen­to intro­spec­ti­vo. Ele a con­vo­ca para uma reunião mis­te­riosa, rea­cen­den­do uma conexão profis­sion­al envol­ta em mágoas não resolvi­das. É um chama­do para o mun­do exte­ri­or — um lugar que ago­ra lhe parece tão estran­ho quan­to recon­for­t­ante.

    Mes­mo com o ressen­ti­men­to pela fal­ta de empa­tia de Corey, ela decide com­pare­cer à reunião. Suas expec­ta­ti­vas são baixas: bus­ca ape­nas uma solução para evi­tar o despe­jo e equi­li­brar sua vida finan­ceira, que está por um fio des­de a morte da mãe. A cam­in­ha­da até o pré­dio da edi­to­ra é mar­ca­da por inse­gu­rança e descon­for­to, ameniza­dos ape­nas pela camisa empresta­da por Jere­my, um homem com quem ela teve um encon­tro inten­so e ines­per­a­do naque­la man­hã. O aca­so os reúne nova­mente na recepção do pré­dio, geran­do um cli­ma descon­cer­tante. Eles desco­brem que estão indo para o mes­mo andar, mas sem saber exata­mente o moti­vo da reunião. Essa coin­cidên­cia des­per­ta descon­fi­ança nela, mas tam­bém uma curiosi­dade difí­cil de igno­rar. A nat­u­ral­i­dade de Jere­my e seu com­por­ta­men­to respeitoso con­trastam com o ner­vo­sis­mo con­ti­do dela, reforçan­do um con­traste emo­cional.

    Na sala de reunião, a pro­pos­ta é final­mente rev­e­la­da: a famosa auto­ra Ver­i­ty Craw­ford está inca­pac­i­ta­da, e procu­ram alguém para finalizar sua série. O nome Ver­i­ty ressoa como um tro­vão no ambi­ente — tan­to a pro­tag­o­nista quan­to Corey recon­hecem o peso dessa opor­tu­nidade. Jere­my, o homem com quem a nar­rado­ra com­par­til­hou momen­tos inten­sos horas antes, é o mari­do de Ver­i­ty. Essa conexão com­pli­ca ain­da mais a situ­ação, tor­nan­do impos­sív­el sep­a­rar o emo­cional do profis­sion­al. Ape­sar da pro­pos­ta de US$ 75 mil por livro, ela hesi­ta — não ape­nas pelo val­or da tare­fa, mas pelo descon­for­to com os holo­fotes e com a respon­s­abil­i­dade de sub­sti­tuir uma auto­ra con­sagra­da. Jere­my, porém, não a pres­siona de for­ma agres­si­va. Em vez dis­so, com­par­til­ha per­das dev­as­ta­do­ras: suas fil­has gêmeas mor­reram em aci­dentes dis­tin­tos, e Ver­i­ty está em esta­do grave des­de o ocor­ri­do.

    Essa rev­e­lação muda com­ple­ta­mente o tom do encon­tro. O homem que antes pare­cia ape­nas um pos­sív­el inter­esse român­ti­co, ou um cliente da edi­to­ra, se rev­ela um pai dev­as­ta­do e um mari­do em crise. Ele não ten­ta con­vencê-la com argu­men­tos com­er­ci­ais, mas com um pedi­do sin­cero — Ver­i­ty admi­ra­va seu tra­bal­ho e gostaria que alguém como ela desse con­tinuidade à série. A pro­pos­ta evolui: pseudôn­i­mo, cláusu­la de sig­i­lo, nen­hum com­pro­mis­so com mídia ou turnês. Tudo para preser­var a pri­vaci­dade e dar con­for­to à escrito­ra que irá assumir esse lega­do. Isso mostra um lado mais humano da indús­tria edi­to­r­i­al, onde o respeito pela obra e pela vida do autor é colo­ca­do à frente da ganân­cia. Jere­my demon­stra empa­tia, ten­tan­do equi­li­brar luto, lega­do e lit­er­atu­ra. Em vez de um con­tra­to frio, ele ofer­ece um espaço seguro para cri­ar.

    A pro­tag­o­nista, mes­mo toma­da pela ansiedade e pelo medo de não estar à altura, começa a con­sid­er­ar o que essa opor­tu­nidade rep­re­sen­ta. Ela sabe que a escri­ta é o úni­co cam­in­ho que con­hece para sobre­viv­er, mas teme que o peso dessa respon­s­abil­i­dade pos­sa par­al­isá-la. Ain­da assim, o respeito que Jere­my demon­stra e o cuida­do em não pres­sioná-la dire­ta­mente plan­tam uma semente de pos­si­bil­i­dade. É como se a decisão de aceitar ou não estivesse menos lig­a­da ao din­heiro e mais a um chama­do de recon­strução pes­soal. Ao fim da con­ver­sa, ela não dá uma respos­ta defin­i­ti­va, mas pro­nun­cia um “tudo cer­to” — não como uma aceitação for­mal, mas como um sinal de que, talvez, este­ja pronta para sair da som­bra do luto e do anon­i­ma­to. Essa escol­ha não é ape­nas sobre tra­bal­ho, mas sobre iden­ti­dade, con­fi­ança e recomeço.

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