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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
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    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 25 começa com um choque tão inten­so que até o cor­po reage instin­ti­va­mente — a car­ta cai no chão e uma dor pro­fun­da despon­ta no ven­tre, como se o con­teú­do escrito tivesse um peso físi­co. O impul­so de acred­i­tar no pior de Ver­i­ty se dis­solve ao se deparar com uma ver­são dela que talvez nun­ca ten­ha sido cru­el, mas ape­nas trág­i­ca. A pos­si­bil­i­dade de que ela ten­ha sido uma víti­ma de suas cir­cun­stân­cias, e não a vilã que o man­u­scrito pin­ta­va, se tor­na ater­rado­ra — porque, se for ver­dade, tudo o que foi feito con­tra ela car­rega um novo sig­nifi­ca­do: o de um erro irre­ver­sív­el.

    Essa mul­her havia per­di­do tudo — duas fil­has, um mari­do que ten­tou matá-la — e talvez nun­ca ten­ha sido a ameaça que pare­cia. O sen­ti­men­to de cul­pa cresce com a ideia de que eles podem ter destruí­do alguém que já esta­va em ruí­nas. A car­ta, ago­ra no chão, deixa de ser papel e tin­ta; ela se trans­for­ma em uma bom­ba emo­cional prestes a explodir o que resta­va de segu­rança e amor entre Lowen e Jere­my. A dúvi­da sobre o que Jere­my sabia ou deixou de saber ape­nas amplia a dor: será que ele já tin­ha lido aqui­lo? Será que ele men­tiu?

    As lem­branças surgem como peças soltas que não se encaix­am mais: o momen­to em que Jere­my não negou ter vis­to o man­u­scrito, suas palavras cuida­dosa­mente escol­hi­das, o olhar que talvez já car­regasse a cul­pa. O impacto psi­cológi­co é ime­di­a­to. A mente de Lowen, con­fusa e exaus­ta, não con­segue proces­sar tudo. Ela fixa o olhar na car­ta como se esperasse que as respostas bro­tassem dali — como se o papel tivesse voz, e essa voz dissesse o que faz­er. Mas nada responde. Só o silên­cio e a cres­cente urgên­cia de escon­der o que pode arru­inar tudo.

    Deci­di­da, ela esconde a faca e a foto no piso fal­so, o mes­mo lugar onde tan­tos seg­re­dos ficaram escon­di­dos. Vai para o ban­heiro com a car­ta em mãos e tran­ca a por­ta. Lá den­tro, começa a destruí-la com as próprias mãos, pican­do as pági­nas com fúria e medo, elim­i­nan­do qual­quer traço do nome de Jere­my — como se, ao faz­er isso, tam­bém pudesse apa­gar a cul­pa que sen­tia. Algu­mas partes são jogadas no vaso san­itário, out­ras engol­i­das, com o deses­pero de quem quer impedir que a ver­dade exista fora de sua mente.

    Ela sabe que Jere­my não supor­taria saber a ver­dade, caso tudo que Ver­i­ty escreveu fos­se real. Ele, que matou a esposa acred­i­tan­do que esta­va sal­van­do o fil­ho, não sobre­vive­ria à rev­e­lação de que Ver­i­ty era inocente. O peso dessa suposição é insu­portáv­el. Ela não destrói ape­nas uma car­ta; destrói qual­quer chance de retorno, qual­quer pos­si­bil­i­dade de reparação. A decisão é silen­ciosa, mas rad­i­cal: o pas­sa­do deve ser apa­ga­do, mes­mo que isso sig­nifique car­regar para sem­pre uma ver­dade que nun­ca poderá ser dita em voz alta.

    Jere­my bate na por­ta e per­gun­ta se está tudo bem. A voz de Lowen, mes­mo trê­mu­la, responde com nat­u­ral­i­dade. Ela se recom­põe diante do espel­ho, ten­tan­do apa­gar os traços do pâni­co. Mas o reflexo rev­ela o con­trário: olhos arregal­a­dos, ros­to páli­do e um medo que não pode ser lava­do com água. Mes­mo assim, ela força um sor­riso e abre a por­ta. Jere­my a recebe com car­in­ho e pre­ocu­pação, mas ela se pro­tege com o que lhe res­ta: um aceno de cabeça, uma men­ti­ra con­ti­da em duas palavras.

    Eles se entre­laçam com um pacto silen­cioso — ou talvez nem isso. Jere­my, ao repe­tir “tudo cer­to”, não imag­i­na a pro­fun­di­dade da escol­ha que Lowen acabou de faz­er. Eles deix­am para trás a casa, os seg­re­dos, a vio­lên­cia e a dor, mas não deix­am o pas­sa­do. Ele ago­ra vive em silên­cio entre eles, enter­ra­do nas palavras que jamais serão ditas. Uma ver­dade destruí­da para pro­te­ger um amor que talvez nun­ca volte a ser o mes­mo, mas que ain­da pre­cisa ser vivi­do, nem que seja sobre ruí­nas.

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