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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
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    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 12 mer­gul­ha ain­da mais fun­do no tur­bil­hão de sen­ti­men­tos que envolve a nar­rado­ra, enquan­to ela lida com a real­i­dade cru­el estam­pa­da no man­u­scrito. A ideia de uma mãe dor­min­do enquan­to suas fil­has choram por atenção é per­tur­bado­ra em qual­quer con­tex­to, mas a frieza de Ver­i­ty ele­va essa neg­ligên­cia a out­ro nív­el. A pro­tag­o­nista, sem con­seguir igno­rar as emoções des­per­tadas, sente-se cada vez mais incli­na­da a acred­i­tar que Ver­i­ty não é ape­nas insen­sív­el, mas ver­dadeira­mente psi­co­pa­ta — e os traços lidos no com­puta­dor só reforçam essa per­cepção, ain­da que o amor obses­si­vo por Jere­my cause dúvi­das quan­to ao diag­nós­ti­co.

    Mes­mo ten­tan­do man­ter uma cer­ta dis­tân­cia emo­cional, a pro­tag­o­nista se vê envolvi­da por Jere­my, espe­cial­mente quan­do ele surge de for­ma despre­ten­siosa, pedin­do aju­da com um anti­go aquário para Crew. Essa inter­ação sim­ples, soma­da à aparên­cia casu­al de Jere­my, mexe com ela de um jeito que a faz ques­tionar se esse sen­ti­men­to é legí­ti­mo ou ape­nas con­se­quên­cia de tudo que leu sobre ele. O ambi­ente do porão, neg­li­gen­ci­a­do como as memórias escon­di­das de Ver­i­ty, ofer­ece um con­traste gri­tante com o restante da casa — rev­e­lando não só os obje­tos esque­ci­dos, mas tam­bém camadas pro­fun­das da vida que essa família lev­a­va antes da tragé­dia.

    A ten­são aumen­ta quan­do a luz do porão se apa­ga repenti­na­mente, mer­gul­han­do os dois na escuridão. A prox­im­i­dade força­da entre eles naque­le instante, o con­ta­to físi­co e a con­fi­ança mútua para sair dali em segu­rança fazem com que a atração se inten­si­fique ain­da mais. No entan­to, por trás da conexão momen­tânea está a inqui­etação con­stante: a lem­brança da babá eletrôni­ca desli­ga­da e dos gri­tos igno­ra­dos ain­da ecoa na mente da pro­tag­o­nista, tor­nan­do impos­sív­el qual­quer envolvi­men­to emo­cional sem cul­pa ou receio.

    Após esse episó­dio no porão, ela ten­ta focar no tra­bal­ho, mas seu pen­sa­men­to retor­na repeti­da­mente à figu­ra de Ver­i­ty. Há algo hip­nóti­co e per­ver­sa­mente fasci­nante nos capí­tu­los da auto­bi­ografia que tor­nam impos­sív­el largar a leitu­ra. Como um aci­dente de car­ro em câmera lenta, o que está escrito a atrai mes­mo que cada lin­ha lida cause repul­sa e mais dúvi­das sobre o que é real e o que foi manip­u­la­do.

    Ao fim do dia, Jere­my parece retomar a nor­mal­i­dade, lavan­do o aquário e cuidan­do da tar­taru­ga de Crew, enquan­to a nar­rado­ra bus­ca con­so­lo na camisa dele, que encon­tra no armário. Esse gesto aparente­mente banal sim­boliza a intim­i­dade silen­ciosa e cres­cente entre os dois, mes­mo que ela este­ja ciente dos riscos emo­cionais envolvi­dos. A camise­ta, mar­ca­da com o nome da cor­re­to­ra de imóveis, car­rega tam­bém as lem­branças de uma vida que Jere­my teve antes de tudo mudar — uma vida que ele sac­ri­fi­cou silen­ciosa­mente para apoiar a car­reira de Ver­i­ty, rev­e­lando sua natureza abne­ga­da.

    Por mais que tente se dis­trair, a nar­rado­ra vol­ta à cama car­regan­do o peso dos pen­sa­men­tos som­brios e dos dese­jos incon­fessáveis. As mar­cas de mor­di­da na cabe­ceira, deix­adas por Ver­i­ty, provo­cam mais do que descon­for­to — elas des­per­tam fan­tasias inten­sas, ali­men­tadas por uma ten­são sex­u­al mal resolvi­da. É nesse momen­to que a real­i­dade invade mais uma vez: o som da cama hos­pi­ta­lar de Ver­i­ty se movi­men­tan­do traz um choque que a arran­ca do devaneio e a faz lem­brar que a mul­her que ela jul­ga como mon­stru­osa ain­da está ali, viva, talvez con­sciente, e envol­ta em um mis­tério que per­manece inde­cifráv­el.

    Mes­mo deita­da, a nar­rado­ra não con­segue evi­tar os ques­tion­a­men­tos sobre o esta­do men­tal de Ver­i­ty. Será que ela real­mente está incon­sciente ou ouve tudo ao redor? Essas dúvi­das não ape­nas ali­men­tam o sus­pense, mas tam­bém sug­erem a pos­si­bil­i­dade de que Ver­i­ty este­ja ape­nas esperan­do o momen­to cer­to para agir. A pre­sença dela paira como uma som­bra con­stante, lançan­do inse­gu­rança sobre cada pen­sa­men­to, movi­men­to e sen­ti­men­to da pro­tag­o­nista — que, a cada dia, se vê mais envolvi­da nes­sa teia de men­ti­ras, dese­jo e peri­go.

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