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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
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    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo Quinze

    Ape­nas alguns dias se pas­saram des­de a morte de Harp­er, mas parece que min­ha vida virou de cabeça para baixo. A polí­cia pegou meu depoi­men­to. Duas vezes. É com­preen­sív­el que eles quisessem garan­tir que não havia furos na min­ha história. É o tra­bal­ho deles. As per­gun­tas eram sim­ples. Fáceis de respon­der.

    — Pode explicar o que acon­te­ceu?

    — Harp­er se debruçou na bor­da da canoa. Ela virou. Todos afun­damos, mas Harp­er nun­ca voltou à super­fí­cie. Ten­tei encon­trá-la, mas esta­va fican­do sem fôlego e pre­cisa­va levar Crew até um lugar seguro.

    — Por que as cri­anças não estavam com coletes sal­va-vidas?

    — A gente achou que esta­va no raso. Está­va­mos tão per­to do deque no começo, mas depois… não está­va­mos mais.

    — Onde esta­va seu mari­do?

    — Jere­my tin­ha ido ao mer­ca­do. Ele me sug­eriu que lev­asse as cri­anças para a água antes de sair.

    Respon­di todas as questões em meio a perío­dos de choro deses­per­a­do. De vez em quan­do eu me con­tor­cia, como se a morte dela estivesse me afe­tan­do fisi­ca­mente. Min­ha atu­ação esta­va tão boa que se sen­ti­ram descon­fortáveis em me faz­er mais per­gun­tas.

    Quis­era eu tivesse acon­te­ci­do o mes­mo com Jere­my. Ele tem sido pior que os poli­ci­ais. Ele não tira os olhos de Crew des­de que Harp­er mor­reu. Nós três esta­mos dor­min­do no quar­to prin­ci­pal no andar de baixo. Crew dorme sem­pre entre a gente. Mais uma vez Jere­my e eu fomos sep­a­ra­dos por uma cri­ança. Mas esta noite foi difer­ente. Eu disse a Jere­my que que­ria abraçá-lo, então ele colo­cou Crew ao seu lado e se deitou no meio. Fiquei enrosca­da nele por meia hora, na esper­ança de que dor­mísse­mos naque­la posição, mas ele não par­a­va com as malditas per­gun­tas.

    — Por que os lev­ou para andar de canoa?

    — Eles quis­er­am ir.

    — Por que eles não estavam com colete sal­va-vidas?

    — Pen­sei que íamos ficar só per­to da margem.

    — Qual foi a últi­ma coisa que ela disse?

    — Não me lem­bro.

    — Ela ain­da esta­va na super­fí­cie quan­do você chegou à margem com Crew?

    — Não. Acho que não.

    — Você sabia que a canoa esta­va prestes a virar?

    — Não. Tudo acon­te­ceu tão rápi­do.

    As per­gun­tas pararam por um tem­po, mas eu sabia que ele ain­da esta­va acor­da­do. Final­mente, depois de muitos min­u­tos de silên­cio, ele voltou a falar:

    — É que não faz sen­ti­do.

    — O que não faz sen­ti­do?

    Jere­my se afas­tou, deixan­do um espaço entre meu ros­to e seu peito. Ele que­ria que eu olhas­se para ele, então lev­an­tei a cabeça. Ele tocou min­ha bochecha gen­til­mente, com a parte de trás dos dedos.

    — Por que pediu para Crew pren­der a res­pi­ração, Ver­i­ty?

    Foi o momen­to em que eu soube que tudo esta­va acaba­do. Foi o momen­to em que ele soube que tudo esta­va acaba­do. Um homem que acha­va que con­hecia sua mul­her…

    Essa foi a primeira vez que ele real­mente enten­deu meu olhar. Não impor­ta­va o quan­to eu ten­tasse con­vencê-lo… ele nun­ca acred­i­taria na min­ha palavra con­tra a de Crew. Ele não era esse tipo de cara. Jere­my era o tipo que colo­ca­va os fil­hos à frente da própria mul­her, e essa era a úni­ca coisa da qual eu não gosta­va nele.

    Mas eu ten­tei. Ten­tei con­vencê-lo. É difí­cil ser con­vin­cente quan­do há lágri­mas escor­ren­do pelo ros­to e sua voz está trê­mu­la.

    — Eu disse isso na hora que está­va­mos viran­do. Não antes.

    Ele ficou me olhan­do por um instante. E depois me soltou. Afas­tou-se de mim naque­la que eu sabia que seria a últi­ma vez. Virou-se para o out­ro lado e abraçou Crew, como se fos­se seu segu­rança. Seu pro­te­tor. Para pro­tegê-lo de mim.

    Ten­tei ficar para­da para que ele achas­se que eu esta­va dor­min­do, mas só con­segui chorar em silên­cio. Quan­do as lágri­mas começaram a ficar mais inten­sas, fui para o escritório e fechei a por­ta antes que Jere­my me ouvisse soluçar.

    No escritório, come­cei a dig­i­tar. Mas sin­to que não há nada mais a diz­er. Nen­hum futuro sobre o qual escr­ev­er. Nen­hum pas­sa­do para red­imir. Cheguei ao fim da min­ha história?

    Não sei o que acon­tece depois. Eu pude pre­v­er o assas­si­na­to de Chastin, mas não pos­so faz­er o mes­mo com min­ha vida. Ela vai ter­mi­nar pelas mãos de Jere­my? Ou pelas min­has próprias mãos? Ou talvez não ter­mine. Talvez Jere­my acorde aman­hã e me veja dor­min­do ao seu lado. Talvez se lem­bre dos bons tem­pos, de todos os boquetes, de todas as vezes que engoli. E perce­ba que vamos ter mais tem­po para faz­er essas coisas ago­ra que só temos um fil­ho. Ou… talvez ele acorde con­ven­ci­do de que a morte de Harp­er não foi um aci­dente. Talvez ele me entregue para a polí­cia. Talvez ele queira me ver sofr­er pelo que fiz a ela.

    Se esse for o caso… que seja. Eu jogo meu car­ro numa árvore.

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