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    Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

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    Capí­tu­lo 22 rev­ela um pon­to de rup­tura entre o que é visív­el e o que está ocul­to, trans­for­man­do o ambi­ente da casa em um cenário de puro sus­pense. A roti­na aparente­mente paca­ta é abal­a­da quan­do Lowen pres­en­cia um movi­men­to sus­peito de Ver­i­ty pelas câmeras, mes­mo com a auto­ra sendo dada como inca­paz de rea­gir há meses. O cli­ma que antes era de silên­cio descon­fortáv­el se trans­for­ma em um tur­bil­hão de emoções, e a lin­ha entre real­i­dade e para­noia começa a se des­faz­er. A ten­são psi­cológ­i­ca é tão inten­sa que o leitor pas­sa a se per­gun­tar se Ver­i­ty está mes­mo em um esta­do veg­e­ta­ti­vo ou se está manip­u­lan­do todos ao seu redor com uma pre­cisão assus­ta­do­ra. É um momen­to em que o ter­ror não está em gri­tos, mas na dúvi­da – e essa dúvi­da é o que impul­siona toda a nar­ra­ti­va. Ao der­ra­mar o café e cor­rer com uma faca, Lowen não age ape­nas com medo, mas com o impul­so deses­per­a­do de bus­car a ver­dade.

    Ao con­frontar Jere­my com o que viu, Lowen enfrenta não só a incredul­i­dade dele, mas tam­bém sua resistên­cia emo­cional. Para Jere­my, a ideia de que Ver­i­ty este­ja fin­gin­do tudo é dev­as­ta­do­ra — sig­nifi­caria que foi engana­do durante todo o tem­po em que acred­i­ta­va estar cuidan­do da esposa inca­pac­i­ta­da. A dis­cussão que segue é mar­ca­da por mágoas e descon­fi­ança. Jere­my reage com rai­va, enx­er­gan­do a acusação como absur­da ou até como uma ten­ta­ti­va de destru­ir o que resta­va da estru­tu­ra famil­iar. No entan­to, o momen­to em que Lowen entre­ga o man­u­scrito muda com­ple­ta­mente o eixo da con­ver­sa. O papel, antes ape­nas um obje­to, se tor­na ago­ra a peça-chave capaz de descon­stru­ir tudo o que Jere­my acred­i­ta­va ser ver­dade. Isso cria não ape­nas um novo con­fli­to entre o casal, mas tam­bém abre uma nova frente para os leitores refle­tirem sobre até onde a manip­u­lação pode ir.

    O man­u­scrito entregue por Lowen con­tém con­fis­sões per­tur­bado­ras, e Jere­my, mes­mo toma­do por dúvi­das, é força­do a con­frontar uma pos­si­bil­i­dade que prefe­ria igno­rar. Ele lê o títu­lo com um olhar per­di­do, já pressentin­do que as palavras ali con­ti­das podem mudar sua vida para sem­pre. A leitu­ra, ain­da que incom­ple­ta, acende uma fag­ul­ha de descon­fi­ança que não pode mais ser apa­ga­da. Lowen obser­va, em silên­cio, o momen­to exa­to em que a negação de Jere­my começa a se trans­for­mar em sus­pei­ta. Esse é um pon­to cru­cial da nar­ra­ti­va: a que­bra da con­fi­ança cega. Jere­my, que sem­pre viu Ver­i­ty como víti­ma, começa a encar­ar a ideia de que pode ter sido cúm­plice incon­sciente de uma farsa elab­o­ra­da.

    É impor­tante notar como a obra tra­bal­ha com a ideia de aparên­cia ver­sus real­i­dade — um recur­so comum na lit­er­atu­ra de sus­pense psi­cológi­co. Ver­i­ty, mes­mo sem diz­er uma palavra, se trans­for­ma no cen­tro da nar­ra­ti­va, manip­u­lan­do ações com a força de sua supos­ta vul­ner­a­bil­i­dade. Isso tam­bém lev­an­ta um debate éti­co sutil sobre cuida­do, con­fi­ança e o papel do cuidador em situ­ações de dependên­cia. Estu­dos em neu­rop­si­colo­gia já demon­straram que pacientes diag­nos­ti­ca­dos com esta­dos veg­e­ta­tivos podem apre­sen­tar algum nív­el de con­sciên­cia, o que reforça o medo legí­ti­mo de Lowen. Ao colo­car isso em cena, o livro insti­ga o leitor a duvi­dar não só da per­son­agem, mas tam­bém do próprio jul­ga­men­to sobre o que é ou não real.

    Com a ten­são ele­va­da ao extremo, o capí­tu­lo ter­mi­na sem res­olução ime­di­a­ta, mas com o ter­reno pron­to para rev­e­lações ain­da mais inten­sas. Jere­my, emb­o­ra ain­da resistente, ago­ra pos­sui a semente da dúvi­da, e Lowen, ao apos­tar todas as suas car­tas no man­u­scrito, se posi­ciona como alguém que não aceitará viv­er com meias ver­dades. Essa vira­da é cru­cial para o rit­mo da tra­ma, pois trans­for­ma o sus­pense em ação imi­nente. A par­tir daqui, o leitor sabe que nada mais poderá ser trata­do como cer­to. A más­cara que cobre a supos­ta frag­ili­dade de Ver­i­ty está começan­do a cair, e com ela, toda a esta­bil­i­dade emo­cional da casa. O capí­tu­lo, por­tan­to, cumpre com excelên­cia a função de tran­sição para um clí­max inevitáv­el — e deixa claro que, no uni­ver­so de Ver­i­ty, ninguém está a sal­vo das ver­dades que estão prestes a emer­gir.

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