Cover of Verity (Colleen Hoover)
    Novel

    Verity (Colleen Hoover)

    by testsuphomeAdmin
    Verity by Colleen Hoover is a gripping psychological thriller that will keep you on the edge of your seat. When struggling writer Lowen Ashleigh is hired to finish a bestselling author’s series, she uncovers dark secrets in Verity Crawford’s unfinished autobiography. Twisting between suspense, romance, and chilling revelations, this novel is perfect for readers who love tense, page-turning stories with shocking twists.

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    I will pro­vide the chap­ter now.

    Queri­do Jere­my,
    Espero que seja você lendo esta car­ta. Se não for, espero que
    seja entregue a você, porque ten­ho muito a diz­er.
    Quero começar pedin­do des­cul­pas. Estou cer­ta de que,
    quan­do estiv­er lendo isso, terei fugi­do com Crew no meio da
    noite. Só de pen­sar em deixá-lo soz­in­ho nes­ta casa onde
    com­par­til­hamos tan­tas memórias já me machu­ca. Tive­mos
    uma vida tão lin­da com nos­sos fil­hos. Um com o out­ro. Mas
    somos Crôni­cos. Devíamos ter imag­i­na­do que nos­sa dor não
    acabaria depois da morte de Harp­er.
    Depois de anos sendo a esposa per­fei­ta, nun­ca imag­inei que
    seria min­ha car­reira, essa que amo e à qual dedi­co boa parte
    do meu tem­po, a respon­sáv­el por acabar com tudo entre nós.
    Nos­sa vida era per­fei­ta até que entramos numa espé­cie de
    uni­ver­so para­le­lo no dia em que Chastin mor­reu. Que­ria me
    esque­cer do dia em que tudo começou a dar erra­do, mas fui
    amaldiçoa­da com uma memória muito boa.
    Está­va­mos em Man­hat­tan jan­tan­do com Aman­da, min­ha
    edi­to­ra. Você esta­va usan­do aque­le suéter cin­za que eu
    ado­ra­va — aque­le que sua mãe te deu de Natal. Meu primeiro
    livro tin­ha acaba­do de sair e eu havia assi­na­do um con­tra­to
    para out­ros dois com a Pan­tem. Esse era o moti­vo do jan­tar.
    Esta­va dis­cutin­do o próx­i­mo livro com Aman­da. Não sei se
    você ignorou essa parte da con­ver­sa, mas imag­i­no que sim.
    Con­ver­sas de escritores sem­pre te deixaram ente­di­a­do.
    Eu dizia a Aman­da que esta­va pre­ocu­pa­da porque não tin­ha
    mui­ta certeza sobre que abor­dagem usar no novo livro. Devia
    escr­ev­er algo difer­ente? Ou man­ter a fór­mu­la que fez suces­so
    no primeiro livro e escr­ev­er sob a per­spec­ti­va do vilão?
    Ela sug­eriu que eu man­tivesse a fór­mu­la, mas que­ria que eu
    fos­se ain­da mais ousa­da no segun­do livro. Eu disse a ela que
    era difí­cil con­stru­ir uma voz autên­ti­ca que fos­se tão difer­ente
    de mim, de como pen­so na vida real. Esta­va achan­do que não
    con­seguiria mel­ho­rar min­has habil­i­dades para o próx­i­mo
    livro.
    Foi então que ela me disse para ten­tar faz­er um exer­cí­cio
    que apren­deu na fac­ul­dade, chama­do “diário do antag­o­nista”.
    Teria sido um óti­mo momen­to para prestar atenção na
    con­ver­sa, mas você esta­va no tele­fone, provavel­mente lendo
    um e‑book de alguém que não era eu. Você perce­beu que eu
    esta­va te encar­an­do e me olhou de vol­ta, mas dei um sor­riso.
    Não esta­va irri­ta­da. Esta­va feliz por você estar lá
    pacien­te­mente esperan­do enquan­to eu pega­va dicas com
    min­ha nova edi­to­ra. Você começou a aper­tar min­ha per­na por
    baixo da mesa e eu voltei a olhar para Aman­da, mas min­ha
    atenção ficou na sua mão, desen­han­do cír­cu­los no meu joel­ho.
    Mal podia esper­ar para voltar para casa naque­la noite; seria a
    nos­sa primeira sem as meni­nas. Mas tam­bém esta­va muito
    inter­es­sa­da nas dicas de Aman­da.
    Ela disse que o diário do antag­o­nista era uma óti­ma maneira
    de mel­ho­rar min­has habil­i­dades de escri­ta. Segun­do ela, para
    entrar de ver­dade na mente de um per­son­agem mau, a téc­ni­ca
    era escr­ev­er um diário da min­ha própria vida… coisas que
    real­mente acon­te­ce­r­am… mas faz­er com que o diál­o­go inter­no
    do per­son­agem fos­se o opos­to do que eu real­mente esta­va
    pen­san­do na hora. Ela me disse para começar pelo dia em que
    nos con­hece­mos. Sug­eriu descr­ev­er o que eu esta­va vestin­do,
    onde nos con­hece­mos e sobre o que con­ver­samos naque­la
    noite, mas deixar o diál­o­go um pouco mais sin­istro do que a
    real­i­dade.
    Pare­cia sim­ples. Inofen­si­vo.
    Vou te dar um exem­p­lo de um pará­grafo que acabei de
    escr­ev­er aí em cima.
    “Olho para Jere­my, esperan­do que ele este­ja pre­stando
    atenção. Ele não está. Está olhan­do a mer­da do tele­fone de
    novo. Este jan­tar é muito impor­tante para mim. Enten­do
    que não seja muito a cara dele — jantares e encon­tros
    chiques em Man­hat­tan —, mas não é como se eu o
    obri­gasse a faz­er isso o tem­po inteiro. Em vez de prestar
    atenção, ele está lendo o e‑book de algum out­ro escritor,
    sendo total­mente desre­speitoso.
    Ele lê o tem­po inteiro, mas não fica con­fortáv­el para ler
    os MEUS livros? É o maior insul­to de todos.
    Estou com ver­gonha do com­por­ta­men­to dele, mas sei
    que pre­ciso dis­farçar. Se Aman­da notar min­ha irri­tação,
    vai notar tam­bém o desre­speito dele.
    Jere­my olha para mim e dou um sor­riso força­do. Pos­so
    deixar a rai­va para depois. Volto a prestar atenção em
    Aman­da, torcendo para ela não notar o com­por­ta­men­to de
    Jere­my.
    Alguns segun­dos depois, ele aper­ta a min­ha per­na, bem
    aci­ma do joel­ho, e con­ge­lo com aque­le toque. Na maior
    parte do tem­po, aqui­lo é tudo o que dese­jo. Mas, neste
    momen­to, a úni­ca coisa que dese­jo é um mari­do que apoie
    a min­ha car­reira.”
    Pron­to. É fácil assim para um escritor fin­gir que é out­ra
    pes­soa.
    Assim que volta­mos para casa, fui dire­to para o com­puta­dor
    e escrevi sobre a noite em que nos con­hece­mos. Na ver­são
    alter­na­ti­va, fin­gi que meu vesti­do ver­mel­ho era rou­ba­do.
    Fin­gi que esta­va lá para transar com algum cara rico, o que
    não é ver­dade. Você devia me con­hecer mel­hor do que isso,
    Jere­my.
    Acho que não fui muito bem-suce­di­da em me retratar como
    a vilã na primeira vez que ten­tei, então pas­sei a sem­pre
    escr­ev­er sobre nos­sos momen­tos mais mar­cantes. Escrevi
    sobre a noite em que você me pediu em casa­men­to, a noite em
    que desco­bri que esta­va grávi­da, o dia em que as meni­nas
    nasce­r­am. A cada vez que escrevia sobre um novo momen­to,
    eu me tor­na­va mais hábil em repro­duzir a mente de um vilão.
    Era incrív­el.
    E me aju­dou.
    Aqui­lo me aju­dou muito e foi a razão de eu ter cri­a­do
    per­son­agens tão assus­ta­dores e real­is­tas em meus livros. Era
    por isso que eles ven­di­am, porque eu era boa nis­so.
    Quan­do ter­minei o ter­ceiro livro, sen­ti que já domi­na­va a
    téc­ni­ca de escr­ev­er sob um pon­to de vista que não era o meu.
    Os exer­cí­cios me aju­daram tan­to que deci­di pegar todos os
    momen­tos do diário e jun­tar numa auto­bi­ografia que pode­ria
    ser usa­da para aju­dar out­ros autores. Pre­ci­sei encadear os
    capí­tu­los numa úni­ca história para dar coerên­cia à
    auto­bi­ografia, então lev­ei aqui­lo ao lim­ite, deixan­do o tex­to
    cada vez mais chocante. Mais per­tur­bador.
    Não me arrepen­do de ter escrito porque min­ha úni­ca
    intenção era aju­dar out­ros escritores. Só me arrepen­do de
    escr­ev­er sobre a morte de Harp­er poucos dias depois que
    acon­te­ceu. Mas min­ha mente esta­va num lugar tão som­brio e,
    às vezes, o úni­co jeito para um escritor lidar com isso é deixar
    as trevas jor­rarem dire­to para o tecla­do. Aqui­lo foi a min­ha
    ter­apia, mes­mo que seja muito difí­cil para você com­preen­der.
    Além dis­so, nun­ca achei que você fos­se ler. Além do meu
    primeiro livro, você nun­ca leu nada do que eu escrevia.
    Então por quê? Por que decid­iu ler jus­to esse tex­to?
    A intenção não era que ninguém lesse e acred­i­tasse. Era um
    exer­cí­cio. Só isso. Foi uma maneira de lidar com o luto que
    esta­va me con­sumin­do e jog­ar tudo nas bati­das do tecla­do.
    Colo­car a cul­pa nes­sa vilã fic­cional foi uma das min­has
    maneiras de aguen­tar a dor.
    Sei que é difí­cil para você ler esta car­ta, mas não pode ser
    mais difí­cil do que a leitu­ra do man­u­scrito na noite em que
    você o encon­trou. E se algum dia vamos nos per­doar por tudo
    isso, pre­cisa con­tin­uar lendo até o fim para saber a ver­dade
    sobre aque­la noite. Não a ver­são que você desco­briu dias
    depois da morte de Harp­er.
    Quan­do lev­ei Harp­er e Crew para o lago naque­le dia, esta­va
    ten­tan­do me diver­tir com eles. Naque­la man­hã, você
    men­cio­nou que eu não brin­ca­va mais com eles, e era ver­dade.
    Era muito difí­cil porque eu sen­tia mui­ta fal­ta de Chastin. Ao
    mes­mo tem­po, eu tin­ha aque­las duas lin­das cri­anças que ain­da
    pre­cisavam de mim. E Harp­er que­ria muito ir para a água
    naque­le dia. Era por isso que ela tin­ha cor­ri­do para o quar­to
    choran­do, porque eu disse que não podia. Nun­ca a con­fron­tei
    por sua fal­ta de emoções, como escrevi no man­u­scrito. Era só
    liber­dade artís­ti­ca para con­duzir a história. Fico ofen­di­da por
    você acred­i­tar que eu falar­ia com um dos nos­sos fil­hos dessa
    maneira. Fico ofen­di­da por você acred­i­tar em qual­quer coisa
    escri­ta naque­le man­u­scrito — ou que eu seria capaz de
    machucá-los.
    A morte de Harp­er foi um aci­dente. Foi um aci­dente,
    Jere­my. Eles que­ri­am passear de canoa e esta­va um dia lin­do.
    E, sim, eu devia ter colo­ca­do os coletes sal­va-vidas neles.
    Mas quan­tas vezes já tín­hamos anda­do de bar­co sem os
    coletes? O lago não era tão fun­do. Eu não tin­ha ideia de que a
    rede de pesca esta­va ali. Se não fos­se por aque­la mer­da de
    rede de pesca, eu a teria encon­tra­do e a lev­a­do até a bor­da, e
    estaríamos rindo daque­le dia em que o bar­co virou.
    Não ten­ho palavras para diz­er como sin­to muito por não ter
    feito tudo difer­ente naque­le dia. Se pudesse voltar no tem­po,
    eu o faria. E você sabe dis­so.
    Quan­do você a tirou da água, eu que­ria arran­car meu
    coração e dá-lo a você, porque sabia que você não tin­ha mais
    um. Eu não que­ria mais viv­er depois de teste­munhar a sua
    angús­tia. Meu Deus, Jere­my. Perder as duas. As duas.
    Eu perce­bi sua descon­fi­ança alguns dias depois da morte de
    Harp­er. Está­va­mos na cama e você começou a me faz­er todas
    aque­las per­gun­tas. Não con­seguia acred­i­tar que você esta­va
    cog­i­tan­do a pos­si­bil­i­dade de eu ter feito algo assim de
    propósi­to. E mes­mo que ten­ha sido um pen­sa­men­to efêmero,
    era quase como se eu con­seguisse ver seu amor por mim se
    esvain­do, como se nun­ca tivesse exis­ti­do. Todo o nos­so
    pas­sa­do… todos os momen­tos mar­avil­hosos que pas­samos
    jun­tos. Tudo aqui­lo sum­iu.
    Porque, sim, eu disse a Crew para pren­der a res­pi­ração.
    Disse isso na hora que a canoa virou. Esta­va ten­tan­do ajudá-
    lo. Pen­sei que Harp­er ficaria bem porque já tín­hamos
    brin­ca­do na água tan­tas vezes. Então foquei em Crew na hora
    que caí­mos da canoa. Quan­do eu o segurei, ele esta­va em
    pâni­co, então fui nadan­do o mais rápi­do que podia para a
    margem, antes que nos afun­dasse. Não havia pas­sa­do nem
    trin­ta segun­dos quan­do perce­bi que Harp­er não tin­ha vin­do
    atrás da gente.
    Até hoje, me sin­to cul­pa­da. Eu era a mãe dela. Eu devia
    pro­tegê-la. E eu pre­su­mi que ela ficaria bem, então me
    con­cen­trei em Crew por lon­gos trin­ta segun­dos. Quan­do
    perce­bi, ten­tei voltar para encon­trá-la, mas a canoa tin­ha ido
    para mais longe por causa da agi­tação na água. Não sabia nem
    onde ela havia afun­da­do, e Crew ain­da esta­va se deba­ten­do,
    em pâni­co. Eu sabia que, se não fos­se com ele para a margem,
    nós três mor­reríamos afo­ga­dos.
    Pro­curei por ela com todas as min­has forças, Jere­my.
    Pre­cisa acred­i­tar em mim. Cada cen­tímetro do meu cor­po se
    afo­gou naque­le lago jun­to com ela.
    Não o culpo por descon­fi­ar de mim. Se fos­se o con­trário, e
    Harp­er estivesse sob sua super­visão, provavel­mente eu
    tam­bém me daria o dire­ito de explo­rar todos os cenários
    pos­síveis. É nat­ur­al esper­ar o pior das pes­soas, mes­mo que a
    descon­fi­ança dure ape­nas um segun­do.
    Pen­sei que você perce­be­ria o quão ridícu­la tin­ha sido sua
    acusação no dia seguinte. Eu nem ten­tei argu­men­tar naque­la
    noite porque esta­va sofren­do muito para dis­cu­tir. Harp­er tin­ha
    mor­ri­do havia poucos dias e, sin­ce­ra­mente, eu mes­ma só
    que­ria mor­rer. Que­ria entrar naque­le lago e me jun­tar a ela,
    porque tin­ha sido cul­pa min­ha. Foi um aci­dente, sim. Mas se
    eu tivesse colo­ca­do um colete nela, ou se tivesse con­segui­do
    segurá-la jun­to com Crew, ela ain­da estaria viva.
    Não con­seguia dormir, então fui para o escritório e abri o
    com­puta­dor pela primeira vez em seis meses.
    Tente imag­i­nar por um momen­to. Uma mãe de luto pela
    morte das duas fil­has escreven­do um tex­to de ficção em que
    acusa­va uma cri­ança de ter mata­do a out­ra.
    Era muito per­tur­bador. Eu ten­ho noção dis­so, e é por isso
    que não parei de chorar o tem­po inteiro enquan­to dig­i­ta­va.
    Mas pen­sei que, talvez, se jogasse toda a min­ha cul­pa e meu
    sofri­men­to naque­la vilã da ficção que eu havia cri­a­do, aqui­lo
    me aju­daria de algu­ma maneira bizarra.
    Escrevi tudo sobre a morte de Chastin. Escrevi tudo sobre a
    morte de Harp­er. Fui até o iní­cio do man­u­scrito e colo­quei
    alguns pressá­gios do que acon­te­ceria, para faz­er sen­ti­do com
    nos­sa real­i­dade som­bria. E, de cer­ta for­ma, cul­par aque­la
    ver­são fic­tí­cia de mim mes­ma, em vez de aceitar a cul­pa na
    vida real, aju­dou a aliviar uma peque­na parte da
    respon­s­abil­i­dade e da dor.
    Não pos­so explicar a mente de uma escrito­ra para você,
    Jere­my. Espe­cial­mente uma escrito­ra que já pas­sou por mais
    tragé­dias do que a maio­r­ia dos out­ros escritores jun­tos. Temos
    a capaci­dade de sep­a­rar a nos­sa real­i­dade e a ficção. É quase
    como se vivêsse­mos nos dois uni­ver­sos, mas nun­ca ao mes­mo
    tem­po. Meu uni­ver­so real tin­ha fica­do tão som­brio que eu não
    que­ria viv­er nele naque­la noite. Foi por isso que escapei e
    pas­sei a noite escreven­do sobre um uni­ver­so ain­da mais
    som­brio. A cada vez que eu tra­bal­ha­va no tex­to da
    auto­bi­ografia, eu sen­tia alívio ao fechar o com­puta­dor. Sen­tia
    alívio ao sair do meu escritório, fechar a por­ta e deixar todo o
    mal que eu havia cri­a­do lá den­tro.
    Foi isso. Eu pre­cisa­va que a ver­são imag­inária do meu
    mun­do fos­se pior do que a real. Porque, se não fos­se isso, eu
    não ia quer­er mais viv­er em nen­hum dos dois mun­dos.
    Depois de pas­sar a noite e parte da man­hã tra­bal­han­do no
    man­u­scrito, final­mente cheguei à últi­ma pági­na. Sen­ti que o
    man­u­scrito esta­va ter­mi­na­do porque, afi­nal de con­tas, o que
    mais eu pode­ria acres­cen­tar? Era como se nos­so uni­ver­so
    estivesse ter­mi­na­do. Fim.
    Impri­mi e guardei numa caixa, imag­i­nan­do que um dia eu
    voltaria àqui­lo. Talvez incluísse um epíl­o­go. Talvez eu
    sim­ples­mente o queimasse. O que quer que eu fizesse, não
    esta­va esperan­do que você fos­se ler. Não esper­a­va que você
    fos­se acred­i­tar.
    Depois de pas­sar a noite em claro escreven­do, dor­mi
    durante a maior parte do dia. Quan­do final­mente acordei, à
    noite, não con­seguia te encon­trar. Crew já esta­va dor­min­do,
    mas você não esta­va com ele. Esta­va para­da no meio do
    corre­dor ten­tan­do imag­i­nar para onde você tin­ha ido quan­do
    ouvi um barul­ho no meu escritório.
    Você esta­va fazen­do aque­le barul­ho. Não sei muito bem que
    tipo de som era aque­le, mas foi pior do que das duas vezes em
    que desco­b­ri­mos que as meni­nas havi­am mor­ri­do. Andei em
    direção ao escritório para con­solá-lo, mas parei antes de abrir
    a por­ta porque seu choro se trans­for­mou em ódio. Algo foi
    ati­ra­do na parede. Dei um pulo para trás ten­tan­do enten­der o
    que esta­va acon­te­cen­do.
    Foi aí que me lem­brei do com­puta­dor. A auto­bi­ografia tin­ha
    sido o últi­mo arqui­vo que eu abri.
    Abri a por­ta para explicar sobre o que você tin­ha acaba­do de
    ler. Nun­ca vou me esque­cer da sua expressão ao olhar para
    mim naque­le dia. Era uma total e com­ple­ta… aflição.
    Não era como a tris­teza de alguém que acabou de desco­brir
    a morte da fil­ha. Era uma tris­teza dev­as­ta­do­ra, como se cada
    memória feliz da nos­sa família tivesse sido apa­ga­da pelas
    palavras do man­u­scrito. Apa­ga­da. Não havia nada den­tro de
    você que não fos­se ódio e destru­ição.
    Bal­an­cei a cabeça e ten­tei falar. Que­ria diz­er: “Não, não é
    ver­dade, Jere­my. Está tudo bem. Não é ver­dade.” Mas tudo
    que con­segui diz­er foi um “Não” patéti­co e cheio de medo.
    Quan­do me dei con­ta, você já esta­va me arra­s­tan­do pelo
    pescoço para o quar­to. Eu não era páreo para a sua força.
    Você segu­ra­va meus braços com os joel­hos e aper­ta­va min­ha
    gar­gan­ta cada vez mais forte.
    Se você tivesse me dado cin­co segun­dos… ape­nas cin­co
    segun­dos para explicar, eu pode­ria ter nos sal­va­do. Ten­tei
    muitas vezes diz­er: “Por favor, me deixe explicar”, mas eu
    não con­seguia res­pi­rar.
    Não sei muito bem qual foi a sequên­cia dos acon­tec­i­men­tos
    depois dis­so. Sei que des­maiei. Talvez você ten­ha entra­do em
    pâni­co ao perce­ber que quase me matou. Se eu tivesse
    mor­ri­do naque­la cama, você teria sido pre­so por assas­si­na­to.
    Crew não teria um pai.
    Acordei no ban­co do carona do meu Range Rover e você
    esta­va dirigin­do. Eu esta­va amor­daça­da com uma fita. Meus
    pés e mãos estavam amar­ra­dos. Mais uma vez, eu só que­ria
    explicar que aqui­lo tudo não era ver­dade. Mas eu não
    con­seguia falar. Olhei para baixo e perce­bi que não esta­va
    com cin­to de segu­rança. Então, naque­le momen­to, enten­di o
    seu plano.
    Era uma frase do man­u­scrito! Eu dizia que pode­ria desati­var
    o airbag do pas­sageiro, deixar Harp­er no ban­co do carona sem
    cin­to e bater com o car­ro numa árvore. Assim a morte dela
    pare­ce­ria um aci­dente.
    Você ia me matar e faz­er pare­cer um aci­dente. Sem quer­er,
    eu tin­ha traça­do o meu des­ti­no nas últi­mas fras­es do
    man­u­scrito.
    Se esse for o caso… que seja.
    Eu jogo meu car­ro numa árvore.
    Eu me dei con­ta naque­le momen­to que, se algum dia alguém
    descon­fi­asse da min­ha morte, tudo o que pre­cisa­va faz­er era
    mostrar o man­u­scrito. Se eu mor­resse, aque­la seria a car­ta de
    suicí­dio per­fei­ta.
    Claro, nós dois sabe­mos como essa parte da história
    ter­mi­nou. Imag­i­no que você ten­ha tira­do a mor­daça e me
    desamar­ra­do, me colo­ca­do no ban­co do motorista e volta­do
    para casa, esperan­do a lig­ação da polí­cia avisan­do que eu
    mor­ri.
    Mas seu plano não fun­cio­nou muito bem. Nem sei se fico
    alivi­a­da por isso. Acho que teria sido mais fácil mor­rer no
    aci­dente, porque fin­gir que estou machu­ca­da tem sido bem
    difí­cil. Cer­ta­mente você está se per­gun­tan­do por que estou
    fazen­do isso há tan­to tem­po.
    Ten­ho pouquís­si­mas memórias do primeiro mês que se
    seguiu à morte de Harp­er. Imag­i­no que eu estivesse em coma
    induzi­do por causa do inchaço no cére­bro. Mas me lem­bro
    clara­mente do dia em que acordei. Graças a Deus esta­va
    soz­in­ha no quar­to, o que me deu tem­po para pen­sar no que
    faz­er em segui­da.
    Como eu ia explicar que cada uma daque­las palavras
    neg­a­ti­vas que você leu eram men­ti­ra? Você não acred­i­taria se
    eu des­men­tisse o man­u­scrito porque, afi­nal, eu o tin­ha escrito.
    Aque­las eram as min­has palavras, mes­mo que não fos­sem
    reais. Quem acred­i­taria que aqui­lo tudo era men­ti­ra?
    Cer­ta­mente não alguém que não entende o proces­so de
    escri­ta. E se você soubesse que eu esta­va recu­per­a­da, ia me
    entre­gar para a polí­cia. Ten­ho certeza de que teria havi­do uma
    inves­ti­gação depois da morte de Harp­er se não fos­se o
    aci­dente. E com meu próprio mari­do con­tra mim, cer­ta­mente
    eu seria con­de­na­da pelo assas­si­na­to dela. Você usaria min­has
    próprias palavras con­tra mim.
    Durante três dias, fin­gi que ain­da esta­va em coma quan­do
    alguém entra­va no quar­to. Médi­cos, enfer­meiros, você, Crew.
    Mas me des­cuidei um dia, e você me pegou de olhos aber­tos
    no quar­to do hos­pi­tal. Ficou olhan­do para mim. Olhei para
    você. Vi você cer­ran­do os pun­hos, com rai­va porque eu tin­ha
    acor­da­do. Pare­cia que que­ria subir em cima de mim e aper­tar
    min­ha gar­gan­ta de novo.
    Você andou em min­ha direção, mas deci­di não te seguir
    com o olhar, porque esta­va com medo. Se eu fin­gisse estar
    alheia ao mun­do à min­ha vol­ta, talvez você não ten­tasse me
    matar de novo. Talvez não fos­se à polí­cia para diz­er que eu
    tin­ha me recu­per­a­do.
    Então con­tin­uei fin­gin­do por sem­anas, porque achei que era
    a úni­ca maneira de sobre­viv­er. Deci­di fin­gir que esta­va com
    dano cere­bral até con­seguir bolar um plano para con­ser­tar a
    situ­ação.
    Não pense que foi fácil. Foi humil­hante muitas vezes. Quis
    desi­s­tir. Quis me matar. Quis te matar. Esta­va com mui­ta
    rai­va por tudo ter ter­mi­na­do daque­le jeito, por você acred­i­tar
    que aque­le man­u­scrito pudesse ser ver­dade depois de tan­tos
    anos de casa­men­to. Sério, Jere­my! Os home­ns acham mes­mo
    que as mul­heres são tão obcecadas por sexo? Era ficção! É
    claro que eu ado­ra­va transar com você, mas, na maior parte
    das vezes, era só para te agradar! Isso é o que casais fazem
    um pelo out­ro. Não era porque eu não con­seguia viv­er sem.
    Você foi um bom mari­do para mim e, ape­sar do que você
    acred­i­ta ou não, eu fui uma boa esposa tam­bém Você ain­da é
    um bom mari­do para mim. Acred­i­ta do fun­do do coração que
    eu matei nos­sa fil­ha e, mes­mo assim, con­tin­ua cuidan­do de
    mim. Talvez porque acha que não estou mais aqui — que todo
    o meu lado mau mor­reu naque­le aci­dente e ago­ra eu sou
    ape­nas alguém de quem você sente pena. Acho que é por isso
    que me trouxe para casa. Depois de tudo o que Crew pas­sou,
    seu coração é muito bom para deixá-lo longe de mim. Você
    sabe que, depois de perder as duas irmãs, perder a mãe seria
    dev­as­ta­dor para ele.
    Ape­sar do que está escrito no man­u­scrito, seu amor por
    nos­sos fil­hos sem­pre foi sua car­ac­terís­ti­ca de que mais gos­to.
    Hou­ve momen­tos nos últi­mos meses em que quis te con­tar
    que estou aqui. Que sou eu. Que estou bem. Mas seria um
    des­perdí­cio do meu fôlego. Não podemos sobre­viv­er a duas
    ten­ta­ti­vas de assas­si­na­to, Jere­my. E sei que, caso você
    des­cubra que estou fin­gin­do, sua ter­ceira ten­ta­ti­va de me
    matar vai acabar sendo bem-suce­di­da.
    Não estou fazen­do tudo isso para ten­tar faz­er você mudar de
    ideia, ou provar que está erra­do. Você nun­ca mais vai con­fi­ar
    em mim de novo.
    Tudo que estou fazen­do é por Crew. Só pen­so no meu
    menin­in­ho. Tudo o que fiz des­de o dia em que acordei no
    hos­pi­tal é por Crew. Ain­da que eu não queira afastá-lo de
    você, não ten­ho escol­ha. Ele é meu fil­ho e pre­cisa ficar
    comi­go. Ele é o úni­co que sabe que estou aqui. Sabe que
    ain­da ten­ho pen­sa­men­tos, uma voz e um plano. Fico segu­ra
    em ser eu mes­ma com ele, porque ele só tem 5 anos. Se ele
    diss­er a você que nós con­ver­samos, você vai achar que é
    imag­i­nação ou até mes­mo o trau­ma depois de tudo o que
    acon­te­ceu.
    É por causa dele que pro­curei tan­to por esse man­u­scrito. Sei
    que, se algum dia você nos encon­trar depois que eu fugir, vai
    ten­tar usá-lo con­tra mim. Vai ten­tar faz­er Crew acred­i­tar nele,
    como você acred­i­ta.
    Na primeira noite depois que voltei do hos­pi­tal para casa,
    fui até o escritório para apa­gar o man­u­scrito do com­puta­dor,
    mas você já tin­ha feito isso. Ten­tei encon­trar a cópia
    impres­sa, mas já não sabia mais onde esta­va. Depois do
    aci­dente, tive alguns lap­sos de memória, e esse era um deles.
    Mas sabia que tin­ha que me livrar dele para que você não o
    usasse con­tra mim.
    Sem­pre que tin­ha uma chance, procu­ra­va o man­u­scrito em
    todos os lugares, o mais silen­ciosa­mente pos­sív­el. No
    escritório, no porão, no sótão. Até pro­curei no quar­to algu­mas
    vezes enquan­to você dormia. Sabia que não podia fugir com
    Crew antes de destru­ir aque­la pro­va que você usaria con­tra
    mim.
    Tam­bém pre­cisa­va encon­trar um jeito de con­seguir
    din­heiro. Mas não sabia muito bem como, não dava para sair
    dirigin­do até o ban­co. Quan­do ouvi suas con­ver­sas com a
    Pan­tem Press sobre a ideia bril­hante deles para con­tin­uar a
    série com um novo autor, sabia que aque­la era a min­ha
    chance.
    Quan­do con­tra­tou uma enfer­meira notur­na e via­jou para a
    reunião em Man­hat­tan, entrei no escritório e abri uma nova
    con­ta no ban­co pela inter­net.
    Dias depois da reunião, a nova auto­ra já esta­va se mudan­do
    para cá para começar a escr­ev­er a série. Era uma questão de
    tem­po até que o paga­men­to dos três livros restantes caísse na
    con­ta, eu pudesse trans­ferir para a min­ha nova con­ta e fugir
    daqui com Crew.
    Só me res­ta esper­ar pela mel­hor opor­tu­nidade, mas a nova
    coau­to­ra está deixan­do as coisas difí­ceis. De algu­ma for­ma
    ela encon­trou o man­u­scrito que eu procu­ra­va. Cer­ta­mente
    você achou que teria se livra­do dele ao apa­gar do com­puta­dor.
    Mas não. Ago­ra são dois con­tra mim. Não me impor­to mais
    em destru­ir o man­u­scrito a essa altura. Só quero ir emb­o­ra
    daqui.
    Eu admi­to, ela está fican­do descon­fi­a­da por min­ha cul­pa.
    Sei que fica assus­ta­da quan­do percebe que estou olhan­do para
    ela, mas é difí­cil evi­tar. Essa mul­her entrou em nos­sa vida,
    está assu­min­do o con­t­role da min­ha car­reira, está se
    apaixo­nan­do por você. E, pelo que estou ven­do, você está se
    apaixo­nan­do por ela tam­bém.
    Ouvi vocês dois transan­do no nos­so quar­to ago­ra há pouco.
    Por mais que este­ja magoa­da, estou igual­mente irri­ta­da. No
    entan­to, você está tão ocu­pa­do com ela ago­ra que me pare­ceu
    o momen­to mais seguro para escr­ev­er esta car­ta. Tran­quei a
    por­ta do quar­to prin­ci­pal, assim vou ouvir quan­do vocês
    tentarem sair. Vai me dar tem­po para escr­ev­er esta car­ta e
    voltar para o meu lugar antes que você suba para o segun­do
    andar.
    Está sendo difí­cil, Jere­my, não vou men­tir. Tudo isso. Saber
    que você acred­i­tou mais naque­las palavras do que em todas as
    min­has ações ao lon­go do nos­so casa­men­to. Saber que pre­ciso
    me humil­har dessa maneira para evi­tar ser con­de­na­da pelo
    crime mais abom­ináv­el que uma mãe pode­ria come­ter. Saber
    que você se apaixo­nou por out­ra mul­her enquan­to pas­so meus
    dias fin­gin­do estar alheia ao que nos­sa vida se trans­for­mou.
    Mas con­tin­uo insistin­do porque ten­ho certeza de que vou
    con­seguir sair daqui assim que o din­heiro cair. É por isso que
    estou deixan­do esta car­ta.
    Talvez você a encon­tre, talvez não.
    Espero que encon­tre. Espero mes­mo.
    Porque, mes­mo depois de ten­tar me enfor­car e bater com

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